quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

 
O ano vai vir. Que venha cheio e surpreendente, para o bem.
 
     
  
Eram dois cãezinhos. Conheceram-se entre muitos e muitos cachorros de um canil público, frequentado por cães com habilidades específicas, quase artísticas, até. Viram-se. Guardaram-se na memória. Farejaram mais um pouco, aqui e ali, e tornaram a se ver meses depois; quase instantaneamente, a vida tratou de abraçar forte um ao outro. Colaram-se voluntariamente pelo lado de dentro, os cãezinhos. Traziam consigo tantas histórias: bonitas, difíceis, não resolvidas, estranhas, engraçadas. Dividiram todas, ou quase todas. Descobriram-se muito, mas não completamente, porque completamente nem tem como ser. Planejaram encontrar um quintal com casinha de cachorro para dois. Para três. Para mais, quando viessem os outros filhotes. Planejaram surpresas que ainda nem foram reveladas, planejaram planejar coisas que ainda não sabiam o que eram, mas uma hora saberiam. Vez ou outra a proximidade fez rosnar, machucar, fugir, provocar do jeito que só cachorro sabe fazer. Do cão e da cadela, o lado de fora tentou ir mas o lado de dentro queria ficar. Chegou o ciclo em que houve muitos dias e noites em que estiveram sozinhos, esparramados com cara de cachorro sem dono. Outros dias saíram pra brincar como se nada tivesse acontecido. Outras vezes se divertiram cada um em seu canil, cada um na sua rua, cada um se virando com seu faro e seu instinto. Cachorro também sonha e acorda repentinamente, na madrugada, buscando rastros, farejando aqui e ali. Às vezes ia ele farejar a porta, à espera de que ela chegasse. Às vezes era ela que subia no sofá para olhar pela janela, quem sabe se... Nos passeios diários de cada um, trombavam-se às vezes nas esquinas. Trocavam latidos curtos. Alguns latidos eram mais agudos que outros, daqueles que fazem sangrar um pouco os ouvidos. Outros eram necessários. Outros latidos eram meio roucos e, embaralhados aos sons caóticos da cidade desses tempos, tornavam-se quase incompreensíveis. Cheiravam-se e iam embora, mas seus coraçõezinhos de cachorro despertavam sempre. Um dia, já faz tempo, ele latiu baixinho uma coisa a ela. E depois, sem que ele saiba direito, ela latiu uma coisa a ele: não me despeço, porque o que existe aqui dentro é muito forte.
Abanaram o rabo e seguiram abraçados, de alguma forma.

  

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

                 
convite, virar comigo, virar o ano e os dias distantes,
virar as estranhezas tropeços solidões faltas saudades.
dessas inevitáveis, virar o sentí-las sozinho;
das que são nossas, novos anos e paz adiante.
um pedaço daqui de dentro está agora na estrada,
vai levar e buscar
abraço disparado em silêncio, sorriso,
convite, de novo.
          

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

. céu luzes idiomas águas e os sons das ruas . saudades repentinas de estar ali de volta . alguma história começa naquelas terras . imagens que atravessaram o oceano e despertaram de volta tão depressa .




Lisboa - Sintra - Aveiro - Porto | maio.2010

domingo, 26 de dezembro de 2010

              
. outros tempos pro tempo preenchido de ar espaço pausa e contemplação
traços de tinta brilhante cores sempre fortes sempre muitas
desenho de pintura viva
tecido um caracol magnético
de dentro pra fora pra dentro olhares de purificação
estado de puro encantamento.


         

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

                                  
que quer dizer eu te amo, pra que saudade voluntária
história declarada e escolhida para a distância, projetada para o passado
rodeada de pretextos incertos e esfumaçados, o que são?
há os significados que se misturam.
da história essa, a que é mais funda
faço pensamentos de todo dia resolver e aliviar
a vida um tanto tomada daí para cá, por mim pra mim
e olho para frente com os sorrisos que ficam em algum espaço
buscando cores em respiros de paz.
                         

domingo, 12 de dezembro de 2010

                    
Amanheceu e encontrei pássaros coloridos em asas de papel, equilibrando-se nos galhos de um arbusto que preencheu a calçada com sua presença reinventada. Um por um, amarrados cenograficamente, muitos, e era só passar ali e ver, no meio do caminho. Entardeceu e o granizo compôs histórias. Fez barulho, derrubou árvore e preparou o horário para o movimento - rodas mãos música espaço gente suor. Dança, porque foi o que nos levou ali. São meses em minutos, minutos relativizando o tempo, sempre. Grita de novo a timidez sutil da menina que eu era, e sou, e disparo. Nomes - as letras me remetem a cada expressão particular. Anoiteceu e meu presente abraçado pela rua como recém-nascido. O congolês entre uma estação e outra olha de rabo de olho as trinta rosas vermelhas, sorri quase que para si mesmo, mareja o olhar. Pergunta, respondo, comenta com seu sotaque misto, cheio de palavras certeiras, algumas coisas sobre pessoas, e sobre o amor. Don't you cry? Me conta um pouco do seu trânsito, em minutos na estrada novamente. Tem ar saudoso de rotas que cruzam o oceano: Congo, Toronto, Cabo Verde, Vancouver, tanta gente espalhada em todo lugar. São Paulo e a engenharia do metrô. Sinal na linha azul e ouço: neste país há pessoas especiais. Como você. Cruza então a roleta rumo à praia; sigo o trem porque as rosas estão aí para florescer.
Isso é essa cidade invertida.
           

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

novo texto em http://www.projetomovola.com/ | veja em Sala.Blog
Projeto Mov'ola | estudos para CHrom.Aqui

Precisão e olhar atento. Camadas. Início.
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Início de dezembro de 2010, e o projeto estudos em CHrom.Aqui agrega de volta os integrantes do Mov’ola. Reúnem-se na sala de dança do Centro Cultural São Paulo quase em escalas de ensaio, conforme as agendas e a cidade, múltiplas, permitem - sem, no entanto, perder o caráter de trabalho constante. Por enquanto são retomadas de partes dos espetáculos anteriores, mas apontando desde já ramificações para a nova estréia em pouco mais de um mês.
O processo desenha-se a partir do movimento, da relação entre os corpos e seus ritmos, recriando imagens antigas e propondo outras, renovadas, no espaço. Em cena, movimento e pausa. Precisão e olhar atento; encaixes. De coreógrafo para bailarinos, movimentação estabelecida e desenhada, interpretada com a liberdade da apropriação presente em quem dança.
A relação entre movimento e conceito começa a ser discutida como foco importante. Qual, ou quais, idéias acompanham, fundem-se ou estão intrínsecas à criação coreográfica? O que pretende esse trabalho, no momento em que encontra o público?
Pelas beiradas da sala de ensaio, fala-se sobre discutir as relações com a cidade e o tempo atual. Quantas camadas simultâneas de informação absorvemos e propomos nos espaços contemporâneos que habitamos? Camadas de compromissos. Camadas de horários. Camadas de ações. Conseguir ou não conciliar tantos olhares. Espaço-lugar(es) / Espaço-tempo(s). O paradoxo inevitável: vivermos imersos na velocidade e multiplicidade das informações (potencializadas pela tecnologia e sua presença cada vez mais abrangente), ao passo que por vezes conseguimos muito pouco tempo para muita coisa. Correr atrás de ter tempo para a vida. Quais tempos carregamos no corpo? Quais tempos são reais, e carregam valor e sentido verdadeiros em nossos percursos? E quanto, e quais, são tempos de ações fictícias ou distanciadas de nós mesmos?
Chroma Key: ambiente neutro, onde o espaço real pode ser recomposto por ambientes preenchidos de ficção. CHrom.Aqui: pela metáfora do espaço inicialmente imparcial, preencher a cena com camadas de imagens e movimento.
Este é o começo.
10 de dezembro de 2010
        
 
. Posso fazer companhia?
(penso: ai!) Ahan.
. E aí, qual a próxima maratona do dia?
. Estou só fazendo hora e vou trabalhar.
. Ah, sei!
. Sim, vou mesmo.
. Então, deixa eu adivinhar: você é psicóloga, ou psiquiatra, e vai dar palestra no AA, ou coisa assim.
. Não, vou dar aula.
. De quê? Rede pública acho que não. Crianças não, também. Difícil...
. Dança.
. Ah, dança! Que dança?
. Contemporânea.
. Nossa, o que é isso? Você falando "dança contemporânea", só consigo pensar numas pessoas vestidas com umas perucas do Rei Salomão, se mexendo meio assim...

E agora, depois das perucas do rei Salomão, como explicar...???
                        

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

novo texto em http://www.projetomovola.com/ | veja em Palco.streaming
Projeto Mov'ola | estudos para CHrom.Aqui


Palco.streaming
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Extensão do palco em suporte virtual, aqui poderão ser visitados fragmentos, em vídeo, do espetáculo preparado para o espaço cênico. Trechos, clips, teasers, materiais editados: olhar tecnológico e audiovisual referindo-se e transformando a criação coreográfica das salas de ensaio e apresentações.
Na íntegra, o trabalho será criado para ser visto ao vivo. Aqui, outro suporte, a matéria da dança se transforma e recria tempo, dinâmica, cortes e possibilidades visuais de acordo com os recursos e necessidades do fluxo virtual.
06 de dezembro de 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

 
Imagens levam para outro tempo, mesmo que tão presente quanto este. Crianças em casa de todo mundo. Casa de brinquedo, casa de música, casa de recriar. Histórias e trilhas sonoras, árvores e contos de vida. Novos vocabulários. À distância, universo que não conheço e que posso imaginar de forma fantasiosa ou equivocada ou real ou sensível ou parte de mim ou de todos ou só mais um lugar com algo a mais; não é só mais um lugar. Ritmo em cores de terra batida e sorrisos diversos, internos. Profusão difusa de gente dissolvida por alguns minutos, num encantamento de serenar calor. O som trazido no quase escuro são vontades à parte, e além; suspende mais uma vez o espaço e leva a outros caminhos. Procuro palavras, impossibilitada de fato de descrever sensações profundas. Os olhos imensos inesperados, rara presença e raras palavras. O sem jeito das poucas conversas, terreno incerto, ainda mais colorido do que as imagens exibidas antes. Surpresas de caminhar.
   

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

novo texto em http://www.projetomovola.com/ | veja em Sala.Blog
Projeto Mov'ola | estudos para CHrom.Aqui

a pesquisa
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Registros e provocações, por escrito, estimulados pelo estudo da criação cênica. Novos caminhos em cena estimulados por tais textos. E, também, a possibilidade de aproximar diferentes públicos da criação proposta, ainda que à distância, pelo intermédio de meios virtuais de comunicação.
Dessa forma, será traçado mais um viés da pesquisa do projeto CHrom.Aqui: a partir da observação dos estudos práticos para composição do espetáculo, serão elaborados textos que refletem e reconstroem poeticamente o percurso traçado. Esse material produzido pode, ainda, voltar à sala de ensaio e interferir na continuidade do processo. Os textos produzidos nesse contexto serão postados regularmente no site do projeto, em paralelo ao desenvolvimento em sala de ensaio. Trata-se de mais uma camada do trabalho, complementar à experiência cênica - tornando-se portanto, por si só, parte do resultado da pesquisa proposta.
O material produzido pretende ser poético e subjetivo, abrindo diferentes possibilidades de leitura e compreensão - lógica e/ou sensível. Utilizando-se da perspectiva de criação de múltiplos sentidos e imagens por meio das palavras, novos caminhos podem ser apontados no projeto, numa contribuição mútua entre movimento, tecnologia e experimentação literária. Com isso, expande-se a dança e suas possibilidades de visualização, também, para o suporte virtual.
O olhar voltado para a pesquisa estará presente o tempo todo. Isso se dará tanto na releitura da dança por outro formato artístico (literário), quanto no desafio de ser provocadora de questões a partir dessa composição de palavras.
Transformar, descrever imagens, propor, abstrair, questionar, aprofundar sensações. Compartilhar esse material por um meio que pode ser acessado por muitas pessoas, em qualquer lugar do mundo, propondo diferentes relações do(s) público(s) com a(s) obra(s). Suscitar imagens, ritmos, dinâmicas, fluxos, sonoridades e quantos outros elementos puderem compor uma escrita em movimento.
01 de dezembro de 2010
       
  
e então,
fechei os olhos para só ouvir.
sonoridade outra.
inundada de azul repentino.
          

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

                               
Dia assim, sem dó. Todas as suposições. Lembranças apertadas nos cantos da não-manifestação levantam aos poucos os olhos, espiam os espaços, as estradas, os horários. Tanto a compartilhar e falar e ouvir, mas dizer ou não dizer dá em coisa alguma, entre textos indecifráveis e pretextos incertos. O chão torna-se móvel e atravesso, equilibrista de vontades e verdades e não verdades, mirando os próprios impulsos de refazer. Contagem regressiva adiante. Equilibrista de novo, e atravesso diferente, no cuidado com cada pétala, entre as escolhidas, guardadas junto às palavras, quando as palavras faltam. Não são só minhas, talvez, mas escorrem líquidas, vez ou outra, para lugares de silêncio.
 

domingo, 21 de novembro de 2010

 
Branco e palha. Gente. Desejos, movimento, som, histórias e mistério. Desaguei.

            

terça-feira, 16 de novembro de 2010

            
tempo... e vida... (J. S.)

nas outras terras. aquelas próximas de onde só conheci uma lasca, um quase nada. de onde poderia descobrir sons, idiomas, gentes, movimentos, paisagens. climas. do alto dos seus oitenta e mais anos, aquele olhar sereno de quem não faz esforço para dizer as melhores palavras, escrevê-las com amor - e para o amor - e me fazer querer estar lá perto, ao seu lado, só um pouco, ainda que, agora, impossível para sempre. as janelas de avião e estradas com mais ou menos velocidade me despertam saudade da viagem repentina e curta. os nomes um do outro pronunciados tantas vezes e eu, distante e espectadora, querendo que aquela história não terminasse nunca. assim como tantas outras histórias. inclusive minhas. chorar de admiração faz bem.

   

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

  
Pianos e cordas me suspendem de dentro da cidade.
Saturadas, a cidade e eu.
Curtos tempos de calma e pura poesia sem nome.
Bom cansaço depois do movimento.
   

sexta-feira, 29 de outubro de 2010


Remeto-me ao tempo/texto de março, sete meses depois. Lá, tentamos. Muito ou pouco, entramos todos agora num espaço de suposições infinitas e sem respostas. De 1993 a 2010, a vida adolescente de lá atravessada por mais de quinze anos; imagem de hoje que não assimilo, as vozes amigas cúmplices nessa gigante interrogação. Fica a história de tantas descobertas, criações, belezas, palcos, risadas, textos, fotografias, escolhas de uma época em que parecíamos para sempre destinados inevitavelmente a sermos felizes. Hoje, tristeza e espanto. Silêncio.
  

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

escrever até entender dissolver reconstruir
caminhar até reconstruir perceber surpreender
histórias se cruzam com as ironias das memórias gestos tempos anos
retornos de vozes, olhares distantes imaginados
triplos sentidos aguçados
sonhos múltiplos
prevejo movimentos não identificados de dentro de mim.
  

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

                         
Para além da próxima escolha eleitoral, fico impressionada com tamanho furor que ainda causa qualquer proposição a respeito da legalização do aborto. E, mais ainda, com o tanto que isso envolve de maneira tão direta e incisiva as correntes religiosas com decisões políticas. Será mais um holofote camuflado pelo discurso do direito à vida, ainda que seja absolutamente sabido que as mulheres que de fato optam pelo aborto o fazem, proibido ou não, nas condições que puderem, mesmo que isso custe sua saúde ou sua vida?

Imagino que abortar não seja uma festa. É quase patético imaginar que a legalização transformaria uma escolha tão forte e marcante, corporal e emocionalmente, numa prática usual e banalizada. Quem opta por não fazê-lo por razões religiosas, que siga suas crenças e respeite-se nesse sentido. Mas não pode mais ser o estado (laico??) o responsável por mais essa decisão.

Imbuída inclusive de um desejo arrebatador de ser mãe, lamento profundamente ainda estarmos no tempo em que se acredita que temos o direito de decidir pelo outro. De proibir pelo outro. De escolher por alguém sobre assuntos absolutamente pessoais, em determinado âmbito, e que por outro lado revelam e reforçam visões públicas de segregação, conservadorismo e cheios de poeira por baixo dos tapetes.

Deixemos então que adoeçam, morram ou sejam presas as mulheres nas clínicas, quartinhos e cantos clandestinos. Que seja negado mais um direito de escolha, cercado da hipocrisia de uma sociedade que sabe que suas oficializações não regem, de fato, o comportamento de boa parte de seus cidadãos - uma vez que buscam dar a si o direito de escolha sobre suas próprias trajetórias.
              

terça-feira, 12 de outubro de 2010

                                    
Fissura alargada a cada tentativa de onde já prevejo o silêncio, mas ainda espero o som de vir, ou de me deixar ir, de perto, de perto, de perto; a fissura se desenha pelo corpo em cores mil, algumas insônias, imagens embaçadas nas suas ausências, nos espaços perdidos que não sei nomear; essa ansiedade que me faz conferir a não-presença a cada instante, os olhos na tela irreal, esperando sinais que chegam quando acho que não virão mais, os vãos se multiplicam de dentro de si, espelham-se na madrugada e se camuflam mal quando amanhece; pulsam por baixo dos dias práticos, e agitam-se sem meio termo na vida real das vontades e interiores daqui.
                                           

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

          
esperava por aquele-esse dia como quando criança esperava o dia da excursão, a mesma ansiedade dividida entre boa e insegura, porque os acontecimentos, mesmo, só se sabe depois que são; e aquele-esse dia já estava porque tinha passado da meia-noite: pro pedaço do dia que aguardava com todo o corpo, na verdade ainda faltava quase um dia inteiro, e era uma espera desenhada nos compromissos, nas vontades, nos sins e nãos e nas coincidências - fossem elas coincidências ou mais que isso; e era daquela espera que trazia reações, ritmos, alterava o pulso e a passagem do tempo, um tempo sempre incerto, distendido nos sumiços de um dia, reconstruído nos encontros nas esquinas, preenchido de lacunas
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lembrei pelo resto do dia do aglomerado paulistano, proximidade inevitável, se é que havia o que evitar, e da surpresa tão rápida quanto delicada, transparente e própria só de dois, deixando rastros na velocidade, com gosto de algo que conheço mas descubro melhor, e procuro no mundo até onde meu pensamento move os círculos ao redor.
   

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

                             
.vinte e quatro horas e mais vinte e quatro horas vezes três texto pronto salvo contato o texto guardado notícias e combinações descombinadas na prática mais vinte e quatro horas impressionada começa a restar pouco revivo realidades aqui não reconhecíveis até então entendo pouco ou entendo tudo o que há horas e dias sem saber por horas e horas.
                   

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

...observando alguns mistérios do mundo... as explosões repentinas, estouro de terra no ar e os pensamentos imediatos que chegam sem controle. luz e sombra, calor e energia, estilhaços espalhados para o bem. sonhos que me acordam aflita, ansiosa, procurando os sentidos que parecem ter. são só um aglomerado das imagens do dia? das fotos vistas, imagens comentadas, histórias que vivencio mais do que deveria? ou trazem respostas que deveria ter ouvido por mais tempo, prestado atenção nos rostos e números de telefone, sem acordar? ou naquilo que ainda não percebi? ou em tudo o que pode ser que só perceba tempos à frente? os acontecimentos todos, frutos de alguma necessidade submersa, dolorosamente emergindo em mudanças incertas como cada dia. os pensamentos mal sabem o que dizem, e passo por eles limitada a tudo o que só entendo até uma parte.
   

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Caminante, son tus huellas / el camino, y nada más;
caminante, no hay camino, / se hace camino al andar.
Al andar se hace camino, / y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca / se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino, / sino estelas en la mar

Caminhante, são teus rastos / o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho, / faz-se caminho ao caminhar.
Ao andar faz-se o caminho, / e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais / se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho, / somente sulcos no mar.

(Antonio Machado)
   

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

                      
Uma bomba explodindo por aqui Pedaços espalhados pelo espaço sem que haja tempo de entender Essa noite o planeta deu uma volta em apenas alguns segundos e em seguida o tempo passou arrastado como nunca Ânsia Ânsias Ansiedades e sufocos, pouco ar pra muitas questões Vontade de controlar as energias todas e resolver as situações plantadas sem sentido e sem paz A sua vida tornou-se minha A sua busca tornou-se minha Nunca fui tão clara sobre isso mas é assim Quatro anos, quase (parte deles conheço por história) e o limite da suportabilidade Amor querendo acompanhar Procuro uma fresta para estar perto Procuro e encontro a presença nas coisas que nessa madrugada ficaram naquele espaço que também é um pouco meu Duas páginas de palavras saíram bagunçadas, são para nós Fiquei pequena perto de uma imensidão que me engoliu Hoje pela manhã caí numa cidade cheia de estranheza e vazia de significados, como eu.
                                 

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

                    
Hoje ouvi uma história mais ou menos assim:
"Eu dançava de 6 a 8 horas por dia. Um dia, precisei operar a coluna. Depois parei de dançar. E me tornei especialista em coluna."
Chorei por dentro, por alguns instantes.
                      

terça-feira, 24 de agosto de 2010

   
...das imagens do edifício... ...e as perguntas...

Nos corredores: branco sujo, bege claro, penumbra não provocada - efeito de lugar sem luz. Do lado de dentro de cada porta: cores variadas, luz inteira, fachos de luz, luz de abajur, nada monocromáticas. A cidade do avesso das janelas só é adivinhada e descrita. As histórias me pinçam, os olhos e vozes que contam de si, verdadeiros e contraditórios, expostos às telas até sabe-se lá de que mundos, vindos de dentro de suas próprias casas.
Quem pode habitar cada espaço? Quem decide? Quem escolhe pelas limpezas, pelos critérios de limpeza, por haver critérios para limpeza, por haver limpeza?
O nojo pela sacola de falso dinheiro devolvido, mas guardada firmemente em lugar sabido, preenchido pelo pacotinho pardo de papéis amarelos sem valor, e o apego a ele tanto quanto à lembrança do medo.
De Lupicínio a Sinatra, as vozes que... Saudade I've lived a life that's full Não se esqueça também de dizer I traveled each and every highway Que é você quem me faz adormecer And more, much more than this Pra que eu viva em paz I did it my way... recuperam em mim os arrepios de ouvir música.
Mais de uma vez, menção a “se atirar pela janela”. Histórias concretizadas. Histórias interrompidas. Histórias desistidas, dependendo do ponto de vista.
Histórias que tornam-se naturais, ainda que o sorriso infantil só trabalhe embriagado.
Elevador. Quadrado transportador. Ouvido das paredes. Verticalidade em movimento contínuo, apinhamento das cidades. Para cima, cada vez mais canalizados, nós.
Olhos perdidos pronunciam um diagnóstico simples e óbvio, não sei se são pessoas demais ou calçadas muito estreitas, ou a fusão desagradável desses dois elementos - completada por outra voz, andar mais acima ou mais abaixo, não é a diversidade, é o número opressivo. E a imagem surrealista e nítida, reconhecível, conviver com a vida das outras pessoas entrando pelos vãos. Nem quero, mas espontaneamente vejo vidas como lavas, moldando-se à estreiteza das soleiras das portas, dos vazamentos das janelas, invadindo-se umas às outras, interferindo, participando. Quem sabe até convivendo, dissolvidas.
As estruturas iguais se repetem a cada andar, como cópias amontoadas, ou sobrepostas. A fôrma é a mesma; o tanto e o como se preenchem é que criam mundos absolutamente distintos. Moro em prédios desde que nasci e, vez ou outra, observava os espaços vizinhos com este pensamento. Eram tão outros lugares, ainda que as paredes se desenhassem iguais às minhas. Só as paredes. Quem cria o espaço, e o caracteriza, e o particulariza? Suas histórias o preenchem? Quanto tempo leva para dissolvê-las de seus locais de origem? Quantas histórias cada espaço habita?

para EDIFÍCIO MASTER, filme de Eduardo Coutinho
pela iN SAiO Cia. de Arte, criação do espetáculo Lugar algum
  

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

  
Escutar, agora, mais do que propor. Ir para o final da fila (...de cada fila...) e desafiar os espaços de dentro e de fora. Experimentar os olhares ainda em entendimento, as suspensões no tempo, os pesos e passagens desde sempre em reconhecimento. Amolecer, repetir o amolecer, repetir o soltar, repetir o ser leve, o tão difícil ser leve. Depois de tanto tempo, as lágrimas de sensação - aquelas que são do bem. Reaprender o convívio, as gentes, os termos, as formas de ver e sentir e entender e fazer dança. Sentir saudades. E aprender, principalmente, a se apaixonar por aquilo que se faz quando se começa do reverso.
                                     

sexta-feira, 30 de julho de 2010

São 7 anos. Feliz aniversário!! :)



                                                

quinta-feira, 22 de julho de 2010


Quietude. A primeira impressão é a cidade de brinquedo. Mentira de verdade. Mais cinema.
Vertigem. Vertigem. Vertigem.
História transbordando de dentro do personagem real, filho, neto, pai, homem, os olhos azuis, a fala contínua, segura, emocionada, ele inteiro incorporado às ruas, às paredes, pisos, tijolos, incorporado às gentes. Ele firme. Condutor.
No espaço singular, um baque de céu recortado entre estruturas. Pedaços de parede pingando de cima, escorrendo dos tetos já desabados. Ancorados no quase nada, prestes a cair.
Invasão invertida, verde no cimento. Chão de marrom molhado. Musgo e troncos se impõem sobre as vozes antigas que habitaram ali há quase cem anos, onde deixar perder é ganhar, ou onde deixar perder é perder-se. Do lado de lá, as janelas suspensas cospem o excesso que vem plantado da terra e do cimento.
Dos pés das escadas para cima, corredores que não existem mais. Hoje desembocam em abismos provocantes. Vertigem. Olho para cima e o azul é tão limpo que amplia o infinito. Fecho os olhos. A vertigem acalma. Abro os olhos. O corpo todo, mesmo seguro, é inteiro vertigem.
Nesse corpo são balanços. Corpo pendurado. Fisgadas de medo. Pisar chão incerto, estreito. Equilíbrio para a queda pavorosa e tentadora. Ouvir o passado no chão. Meu corpo pedaço da pedra.
   


sexta-feira, 9 de julho de 2010

             
Algum vento, quase nada. Tropeços num corredor falsamente estreito, de próximas paredes imaginárias, enquanto a luz que vem de cima é de espaço infinito. Corredor revelado mais tarde tão diferente que não era o mesmo lugar. Rangido musicando forte, roubando outro qualquer. Rangido de novo, intermitente. Numa projeção imaginária, cinematográfica, em torno dele são estruturas abandonadas, sem preenchimento, vazadas de gente, vazadas de paredes, vazadas de matéria viva. O rangido denuncia as presenças. Sem ninguém, talvez deixe de existir. Pausa. Aos poucos quem está próximo começa a se diluir. Desaparece, mas fica a respiração. Estou sozinha ao lado da respiração de alguém. Rangido de novo. Queria mais vento e menos muros. Abrem-se os olhos. Uma imensidão quase sem cor, espaço preenchido por tanto desconhecido. Quais universos existem em cada janela? E são milhares, milhões, ou mais. Quadrados disformes, retalhos, rachaduras. Histórias escondidas nas esquinas invisíveis, nas multidões subterrâneas. Carros se movem em uníssono, mais lentos se vistos de cima. A visão do todo modifica a da proximidade. A cidade não termina nunca. Ao mesmo tempo, vista assim, quase cabe nos olhos. Quase cabe num quadro. Constrói-se em degraus. Sua dimensão é que não cabe no entendimento. Não tem ordem nem sentido, vem profusa e condensada. Parece conter uma beleza ressecada.

"A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo. Febre de meus adentros: as cidades e as gentes, soltas da memória, navegam para mim: terra onde nasci, filhos que fiz, homens e mulheres que me aumentaram a alma." (Eduardo Galeano)
                

sábado, 3 de julho de 2010

   
Tateio as novidades, justo quando se estabelece a certeza de precisar arcar com minhas escolhas mais fundamentais. Do outro lado da rua (outro?), de repente percebo que a obra não é, ou não foi, a questão. Ou pelo menos não foi toda ela. As posturas, essas sim. Difíceis de diagnosticar e solucionar de fato, ou ao menos modificar para outras crises, para que sejam outros os assuntos a tratar. Não se pode ter só parte de um universo escolhido, mas há metades que não deveriam mais ser. O trabalho contínuo é também um casamento? É preciso reinventá-lo. Mas precisava de estímulos além de mim, não consegui encontrá-los por dentro. Hoje olhei de fora aquele produto criado com vontade, expectativa e prazer. Foi mais uma vez o "sair da ilha" do escritor que me diz tudo tão bem. Estive repleta de um distanciamento presente, cheio de reações de movimento, arrepios, um arranhão passeando por mim, sensações camufladas no contexto, o corpo pedindo ação. Por dentro, explodi. Ninguém viu. Explodi muda, só eu.
           

quinta-feira, 24 de junho de 2010

                               
Um rio sobre o qual se anda por cima de pequenas pedras.
Uma margem. E a outra margem. Escolher entre uma e outra.
Porque a cada círculo do tempo, o rio fica mais fundo.
Se o pé escorregar, o corpo se afoga.
 

terça-feira, 22 de junho de 2010

  
Nessa terça, dia 22, no Profissão Repórter, será exibida a história da filha do Jonas, sequestrada pela mãe desde 2006. Assistam:

PROFISSÃO REPÓRTER / 22-junho-2010
  

sexta-feira, 18 de junho de 2010

        
Tantas e imensas palavras. Mesmo tão distante e alheio à minha vida, parece existir tão perto de mim.
Algumas pessoas realmente deveriam ficar pra sempre por aqui. Pena.

"(...) aquele era nada mais nada menos que o meu primeiro balão em todos os seis ou sete anos que levava de vida. Íamos nós no Rossio, já de regresso a casa, eu impante como se conduzisse pelos ares, atado a um cordel, o mundo inteiro, quando, de repente, ouvi que alguém se ria nas minhas costas. Olhei e vi. O balão esvaziara-se, tinha vindo a arrastá-lo pelo chão sem me dar conta, era uma coisa suja, informe, e dois homens que vinham atrás riam-se e apontavam- me com o dedo, a mim, naquela ocasião o mais ridículo dos espécimes humanos. Nem sequer chorei. Deixei cair o cordel, agarrei-me ao braço da minha mãe como se fosse uma tábua de salvação e continuei a andar. Aquela coisa suja, enrugada e informe era realmente o mundo."

"Tu estavas, avó, sentada na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para céu que nada sabias e por onde nunca viajarias, e disseste, com a serenidade dos teus noventa anos e o fogo de uma adolescência nunca perdida: "O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer". Assim mesmo. Eu estava lá."

                                           (José Saramago)
  

terça-feira, 15 de junho de 2010


Música, em sons às vezes agudos. Surgem como se viessem de lugares mais distantes e se aproximam por toques de cordas que respiram. Respiro também. Aqueles contínuos desenham imagens em mim, encontro os conhecidos por trás dos novos arranjos. Mas não é só isso. Vontade de movimento, belezas além. Mas também não é só isso.
    

terça-feira, 8 de junho de 2010

                                                                     
De noite a cidade é mais bonita. Tão mais bonita. Foi quando começou a mudar. Chegada familiar ao mesmo tempo que incógnita, ecoando estranhamentos. Depois eram rumos incertos e idiomas variados, todos?, palavras trocadas, ladeiras-muitas-ruas-estreitas de luzes coloridas e cheiros, cheiros, cheiros. Crianças. Trens de todas as pequenas moradas, correndo por uma lente de vidro transparente, minha, que buscava imagens menos reais. Boas histórias, placas, gentes, noites claras de sol e vinho. Chãos de pedra e pequenas portas baixas, de verde antigo. História concreta nas águas próximas, nas paredes, nos poemas, história nos lugares e vidas contadas. Comunicação universal em felizes tentativas inesperadas. Pretéritos mais que perfeitos imperfeitos. Olhos nos olhos, nas filas, poltronas. O sim que poderia ser amedrontava tanto quanto o não que veio real. Parte do teto desaba sem metáfora. Frases mímicas quase formuladas. Movimento na sala, nas dúvidas, em cena, da rapidez que deixa impressão de ação diluída na memória. Música na rua, dança de quem entrar, e sair, e voltar, e fechar os olhos e ver-ouvir.
A fala cantada ecoando nas minhas leituras.
Cronologia própria, o tempo diferente. O que vim/fui mesmo fazer aqui? Procurar vontades. Não sei se encontro. Ainda por vir. Não sei se me encontro.
Passaram-se meses em uma semana.
      

sexta-feira, 21 de maio de 2010

               
Desabafo ansioso,
não tem jogo nem brincadeira,
nem desleixo, nem pouco caso
não pra machucar,
é impulso que depois falta
talvez não sono, ou profundo de um outro cansaço
choro abundante em torno das palavras, ditas ou não
um dia parece mais, como serão se forem tantos?

Isso: saudade.
              

quarta-feira, 12 de maio de 2010

              
Mais nada a dizer, no entanto todo dia parece que...
De novo, para mim ou para quem?
Da incompletude num e n'outro estado, de estar ao contrário sempre e em qualquer escolha.
Ao inverso de mim, um e outro verso vazio, reverso do que?
Frio Chove Sono Só.
        

domingo, 9 de maio de 2010

                    
Se pudesse, explicaria os impulsos. O repentino das palavras, embora saibamos do tempo que levam para tomar forma. Do brusco silêncio de proteção de dois, de deixar para nós o espaço para que cada dia chegue à noite, sempre mais apertada e fria. Explicaria sobre sentir, e explicaria a ambos, para que nos fizesse algum sentido. E aconchegaria as solidões, e traria a calma de que era assim, ou não seria - assim, como quem acorda de repente impulsionada pelo próprio medo. As poucas palavras espalhadas, leio, sabe, e são precisas entre tanta poesia. Perda. Ar.
                 

quarta-feira, 28 de abril de 2010

   
Cedo. Grito
curto, quase nem era
     grito, e de repente. Queda,
 o vermelho pela calçada. Fissuras
 em trevo
   no topo da cabeça. A menina
               pequena tirada às
       pressas, olhos estalados sem compreensão: a seu lado
    no segundo anterior. Pensamento
             buscando solução rápida para a imagem
        estendida no tempo, o tempo dilatado ao mesmo
             tempo que instantâneo. Pergunta
    óbvia, resposta óbvia. Algum som e
              o rio, fio vermelho, ação desconhecida,
 instantes, alguém ao telefone. Rápido
          agrupamento em torno, sempre
 há. Coração disparado, indefinidamente
          sem saber o que foi. O caminho seguiu-se enquanto corria
                       o rio vermelho.
 Horas depois, mais
                        nada
                      na
             calçada.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

           
...e hoje não sei se sou mais mãe ou estrangeira -
terra ou mar, mais terra ou ar.

sábado, 17 de abril de 2010


Eram muitos moradores. Alguns antigos, dos que estiveram no tempo das construções. Outros nem tanto, mas já habitavam os espaços por algum tempo. E os que eram tão novos que mal conheciam ainda seus próprios endereços. Reuniram-se todos em grandes grupos mistos, e fossem eles um pouco mais ou um pouco menos conhecedores dos muitos passados, nenhum poderia dizer sobre o novo presente que retornava naqueles dias. O novo presente, desenhador do próximo futuro. Encontravam-se para trocar, ouvir e compreender maneiras possíveis de continuar. Era um espaço potencial de encontro, possibilidade de olhares voltados para o entendimento de vocabulários, idéias, maneiras possíveis de pensamentos e ações. No entanto, para onde foram? Ficou um estranho vazio.
          

terça-feira, 13 de abril de 2010

             
CORPO DA VEZ apresenta
"SILENCIARAM"

sexta-feira, 16 de abril, 20h

C. Cultural Diadema - Teatro Clara Nunes
Rua Graciosa, 300 - Centro
Entrada Franca


http://www.youtube.com/watch?v=TVQg-oOKf5s

quinta-feira, 8 de abril de 2010

                   
Morros molhados, gente de chuva, corpo de terra,
areia que se desfaz no espaço - ladeira abaixo,
sentido único, para baixo, sob,
e sobre é cimento e chão invertido
imagem reincidente, aqui e lá, dias submersos
avesso de planeta, gravidade sem resistência
crateras de tudo em destroços
pedaços de vida
abrigo, colagem e reconstruções,
viva incompletude, t-erra.
     

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Tinha palavras que despencavam pra lugar algum. Palavras de cera, papel, papelão, palavras duras de madeira antiga, que derretiam ao som das outras, virtualmente escritas. As suas, de antes, desfaziam-se em moléculas líquidas, pelos olhos incertos, sempre incertos, como que estrábicos interiores. Espaços de saudades muitas, teias e fragmentos. Palavras que saltam antes, sussurros ou gritos, matérias de ar. Madrugadas emaranhadas em travesseiros sem sono.

Qual é a desordem por aqui? A desordem de fato, a verdadeira, não a que aparece no lugar. Desordem daquelas de sangue e fungo, de corpo e incômodo, tem bula que assusta e insistindo resolve, ou disfarça. Mas cápsula pra outro lugar, de se entender, de raiz, cor/ação, de verdade, é poema não escrito, palavra que não existe, que vai sentir quando o resto der espaço.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

 
p.s. de televisão: Ainda bem que as plásticas não acabaram com a voz da Elba...
 

segunda-feira, 29 de março de 2010


Pequeno barco de fogo pelas águas compridas.
Correnteza forte carrega folhas de bananeira dispostas na forma de tradições milenares. Corre a chama-correnteza, fogo de luz, da noite entrar no dia na hora exata de sempre. Barquinhos vários, fogo em círculo, em cantos, em cânticos, em conchas soando limpas nas margens degraus das águas geladas, correntes pras mãos segurarem. Luz de fogo de proteção, ritual e crença ou imagem, linda imagem por si, onde embarcam histórias solúveis ou não nas chamas dos deuses, olhos das gentes, águas de luz.

domingo, 21 de março de 2010

A vida me espanta. Espanto para-pelo incompreensível. Imagem que não vi fotografada na noite de sono dífícil. Quem fica, como fica? Envolvimento não-meu, busca de sentido, encontro como cumplicidade humana. Saber como (des)anda o interior de qualquer ser? Nem sempre se conhece todo desespero. Que a escolha seja paz, na forma vaporosa que for, ilusória ou concreta, real.

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Aquela criança, pequeno menino, mais-que-especial, reviverá o alívio. Algum alívio, entre os sorrisos dos olhinhos claros que, definitivamente, aprenderam a andar, correr, cair, para todas as direções. Vida.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Realidade incompreendida, o retorno. Mas ver o que foi tem gosto, cheiro, é história e corre por dentro como versos gravados. Não há tempo de ver o passado se transformar nele mesmo, a não ser de repente, quando vai longe, quando os rostos e corpos revistos mudaram, quando finalmente hoje é tempo diferente, embora passado a cada segundo - passado. Tempo móvel. Acelerado. Memória em espiral. Olhar para eu-aquela, personagem que não sabia de seus futuros múltiplos, hoje também já atrás. Saber mais que ela sobre o que viveria, incertas vidas, não sabem as próximas. Óbvio panorama interior. Inútil e inevitável. Acidental.

sábado, 6 de março de 2010

Ela, sozinha como sempre, como se nunca tivesse sido diferente. Poderia ser, mas de que importa o "se" quando o tempo futuro deixou de ser depois, e já tornou-se agora? Abandonada como desde os tempos conhecidos. Há escolhas entre a sanidade e a loucura? Se hoje o mundo seu, incerto e próprio, aberto pelas ruas e espaços comuns, for abrigo e conforto, nos pés machucados, sacolas pesadas de ar e a cabeça coberta por algo que talvez não se possa mais acessar? Ou, gota a gota, voltar. Desde quando perdeu-se o tempo de aceitar, aceitarmos, aceitarem? Qual o poder e a certeza de que o caminho deveria ser outro? Aqui, receio de pensamentos levianos. E das impotências.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


Antes mesmo daquele registro os pés até então comportados fizeram a primeira bolha da semana então O homem no ônibus cheirava mal isolado afastavam-se mas A voz intermitente ecoando até agora nem lembra mais O carro que procurava os caminhos que talvez não existam para Um corpo machucado à toa enquanto As viagens incompreendidas e opostas corriam porém Eram mais nítidas do que os sentimentos que traziam Uma temperatura tão alta que quase escondia um prédio em segredo.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Despencava como nos sonhos recorrentes, onde a iminência do contato com o chão fazia acordar, mas era só queda sem fim. Era o espaço do tempo-depois escuro, sem imaginação. Sem graça ou ação, sem existência. Encontrava vontades como que por trás das grades, a brincadeira das dualidades ficando verdade. Enquanto isso, a esperavam o mar e os suores. As telas viciantes tomavam conta do tempo que se perdia em pensamentos estancados, os abismos perdidos, os riscos amedrontados, impulsos guardados em lugar algum, em algum lugar. Seus desenhos apagados nos humores secos. Sua imagem sem contorno.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

...o primeiro do novo ou velho início de tempo...

escolhas para um lado e para o outro
e as vontades e as opiniões
e os riscos e as necessidades
e o tempo de cada um e o meu tempo

gritos internos de ansiedade e expectativa
resultados e percursos
fugas
abismos nos pulos
profundos-no-entanto-não-saem-da-margem

reencontrar
e
.