segunda-feira, 18 de abril de 2016

Tinham nas vozes discursos gagos e grunhidos, tinham no caráter fedores e mentiras; ou não tinham caráter - disfunção da qual sofria a maior parte. Eram figuras saídas de dentro de móveis abandonados, por baixo de tapetes empoeirados, numa sucessão de deformidades mal-elaboradas, como num cenário macabro de baixa qualidade.
Apesar de óbvios, tamanha existência em massa chegava a surpreender em alguma medida, arrancava às vezes risos nervosos diante do desmonte dos seres que cuspiam bobagens.
Eram muitos. Doentios. Embora já saídos das fraldas há muitos anos, reagiam com infantilidade bestificada diante da minoria de figuras contrárias ao seu show de horrores (porque sim, elas existem, e um salve à coragem e pertinência dos personagens que habitam a outra margem do rio).
Como suportá-los, esses fascistas de golpe em punho, racistas e homofóbicos, ignorantes e mentirosos, hipócritas e cínicos, torturadores armados de ódio construído e conveniente, inflamados e sem vergonha por suas próprias existências?
Por horas exibiram-se num show patético comandado pelo showman-risonho-bandido-gângster-canalha (outro salve aos nomes tão adequados) que se julga impune, mas acreditemos que cairá, porque tamanho terror personificado há que ser aprisionado para longe das nossas existências.
Tal exibição só caberia neste dia da semana, dia de programa dominical com dedicações imbecilizadas às suas-famílias-propriedades, aos deuses genéricos, aos golpistas, a um torturador. A um torturador.
Há os piores e há os piores que os piores. Não cabe dizer amebas, porcos, ratos. Comparam-se aos humanos, e apenas aos humanos, essa raça que tem sabido cheirar tão profundamente a esterco.
Os pobres, negros, índios, mulheres, violentados, homossexuais, guerreiros, lutadores, torturados, desaparecidos, miseráveis, excluídos, decentes, estes não cabiam naquelas bocas imundas.
Poderia ser o roteiro de um filme ruim, mas foi verdade não-estética, foi verdade e re-revelação.