segunda-feira, 8 de outubro de 2012

jogos para dançar

Primeira participação de 6 (6!!!!) novas vocacionadas. Não sei como, mas chegaram ali-aqui no último dia de setembro. Fizemos uma retomada de improviso que já havia sido trabalhado. No final, pergunto como foi esta experiência para quem tinha chegado hoje e estava caindo de paraquedas na cena. Amanda: “Esta dança é de dentro pra fora. E se é de dentro pra fora, a gente não caiu de paraquedas. A gente entrou e dançou com o sentimento.”

Continuo habitando dois espaços bastante distintos, mas agora ambos têm um rosto que os caracteriza com alguma identidade.

Sábados antes líquidos e incertos. Até que um dia conseguimos entender quem constitui a turma (mesmo que ainda cheia de variações) e descobrimos dentro da sala um muro. Uma mureta, literalmente, rodeada por verbos que se multiplicam a cada semana. A dança começa a surgir no meio do jogo, entre esconder, tocar, roubar o espaço do outro, procurar, acolher, aconchegar, esperar, seguir. Escolhidos antes ou durante a ação, os verbos detonam sequências, relações, contextos. O espaço amplo da sala de dança tornou-se lugar de preparação, para depois ocuparmos essa mureta. Ela foi ficando. Foi ficando. Foi sendo experimentada. Ao mesmo tempo em que turma foi se formando. Foi se formando. Foi se experimentando. Perdeu gente, ganhou gente, hoje, ainda. Isso renova mas também desestabiliza.
Apareceu humor, também. Difícil isso do humor na dança, e é bom quando surge, é muito bom, mas como é delicado retomar o que aconteceu com o mesmo frescor. Agora, a cada semana, tentamos começar a definir o que fica, o que se repete, o que se cria de novo. Haverá interferência da platéia? O jogo fica aberto o tempo todo, e as indicações dadas na hora conduzem as ações? Mas há instantes tão poéticos, outros muito engraçados, vamos manter e deixar tudo misturado?
Falamos muito sobre escuta, porque é jogo. As regras surgem para nortear, e para que possam ser ultrapassadas. Encontrar “comos” de ultrapassagens tem sido o trabalho, num espaço que tem todo mundo diferente junto: quem está por ali há tempos e quem literalmente acabou de chegar. Quem chega disponível para qualquer experiência e quem tem uma preguiça visível que parece não ser vencida por coisa alguma. E aí, o entendimento do processo, das vontades e das possibilidades é muito diferente - e não menos surpreendente. Quando parece que a turma se harmonizou completamente, tem gente que não volta. E às vezes quem você menos espera está ali sempre, se/nos alimentando de percepções e contribuições.
Os passos a seguir serão definidos a cada dia, não sem uma preocupação prática com os sábados desviados de outubro, por conta de calendários que nos deixam sem lugar. Mas a criação que se desenha fica fora do palco, acontece na mureta da sala de dança do 4º andar (por trás, por cima, na frente, em torno), e faz os corpos criarem relações de reconhecimento, procura, espaço. Qual espaço ocupo? Qual espaço ocupo em todos os sentidos?
Há um “irmão-mascote” de 8 anos que normalmente assiste ao encontro. Dia desses, jogou-se em cena e virou bailarino da ação também. Este encontro entre um e outro, e outro e o um, é parte imensa do que faz sentido.

Enquanto isso, nas noites que eram às quartas e mudaram para terças, o trabalho permanece harmônico na sua diferença diluída, e o grande passo agora é a tentativa de escolha. Ocupamos a platéia do teatro sempre que ela esteve disponível, e experimentamos muita coisa por ali. Antes de chegarmos nesse espaço, percorríamos as oposições de movimento, as contradições, os contrários. Acabamos por deixar que esse elemento escorresse para a inversão no espaço cênico. Mas agora, o que queremos com isso, afinal?
A turma está com este processo inscrito para o Festival Vocacional desde agosto. Levando em conta que eram quase 3 meses de antecedência (o festival acontecerá em novembro), como dizer o que será o trabalho? Bom pretexto para pensarmos sobre o que vem sendo desenvolvido. Se fôssemos outras pessoas, se estivéssemos fora do processo e assistíssemos às experimentações feitas até aqui, o que nos perguntaríamos? Surgem questões de “dentro-fora”: “O que vocês querem com isso?” / “Qual é a sua?” / “Qual reação você quer provocar no público?”
Algumas respostas giram em torno de “Despertar curiosidade na platéia” / “Testar o outro lado” / “Trocar os papéis” / “Assistir ao público” / CAUSAR EFEITOS, CAUSAR EMOÇÕES.
E então a gente começa a retomar algumas coisas. Aproximar a afastar, no cenário da platéia vermelha vazia. Sumir e aparecer. Desenhos em linhas horizontais, velocidade. Corpos escorrendo de cabeça pra baixo pelas escadas da platéia. Conversas com o público. Espelho à distância, espelho invertido. Encontros. Desistências. E as trilhas sonoras? Queria pensar em referências outras nesse universo, para compartilhar com eles, mas ainda não consegui. Escolher. Ai.

Em ambas as turmas encontro corpos que desejam aprender possibilidades de movimento tanto na criação quanto no aspecto puramente técnico, do estudo de caminhos físicos ainda sem significados além - desejo do qual compartilho. Algo como sequência, memória, coordenação, pra depois detonarem a criação. E são corpos tão diferentes, coisa que me desafia a pensar por quais caminhos podemos chegar a algumas possibilidades e adaptações. Às vezes dá certo, em outras, só o tempo (ou nem ele?).

Neste caminho esbarro também com questões além da vontade. Tanto nos Territórios como em ações que surgem para substituir orientações em dias em que o CEU está fechado, me deparo com falta de dinheiro, riscos de transitar pelas ruas com menores de idade, autorização de pais. Ao mesmo tempo, penso que são questões importantes de serem enfrentadas no trajeto de quem quer se envolver com arte. Estaciono alguma conclusão neste espaço contraditório entre as condições que temos, as que não temos e aquelas que “arranjamos”, e penso que deva haver uma mediação cuidadosa aí para saber em que situação optar por encarar uma ação ou abrir mão dela.

Surpreender-se o tempo inteiro e ter uma certa angústia de como amarrar as experiências. As agendas conversam conosco e tem eleição dedetização festival mostra sarau e tem as cabeças querendo dizer um monte de coisas e os corpos desejando criar e os encontros que transformam três horas em muito pouco tempo. O tempo de conceber de repente quase parece que já acabou quando na verdade este tempo é sempre, e ainda há tudo para dançar.

(3o Ensaio de Pesquisa-Ação, Vocacional Dança 2012)
 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Contra o Russomanno. Contra o Serra. Contra o conservadorismo, o reacionarismo, a continuação do enterro em massa da cultura, da educação, da saúde. Contra os massacres e incêndios "acidentais" nas favelas. Contra os shoppings disfarçados de igreja usurpando dinheiro, usando os fiéis, difundindo como água o preconceito e o atraso social, essa moralidade estúpida usada há séculos a favor do poder de poucos e prejuízo de muitos. Contra o Russomanno. Contra o Serra. Percebe o que acontece há anos nessa cidade com as últimas gestões, metrópole!
Torcendo demais pra não precisar ficar de luto por São Paulo no final dessas eleições.