quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009


Semáforo vermelho - e verde. Cruzamento e, lentos, os carros recomeçam. Conversa despretensiosa. Ali na frente, abre-se a porta do passageiro. O carro em movimento, os carros, esse e aquele e os outros.

A mulher desce ou cai ou se joga ou foge ou é jogada ou desmaia ou escapa. Os instantes milimétricos e a imagem fotografada que começa de baixo, sobre e volta a descer, os braços um pouco pra cima, o corpo em movimento sinuoso, amolecido em direção ao chão. E seguem os segundos eternos sem movimento. O corpo ali, deitado no chão ao lado da porta aberta com a cabeça de lado, as pernas dobradas quase confortáveis e a imagem que começa de baixo, sobre e volta a descer, os braços um pouco pra cima, o corpo em movimento sinuoso, amolecido em direção ao chão. E seguem os segundos eternos sem movimento. O corpo ali e a imagem que ecoa a sei-lá-quantos anos-luz de velocidade, porque em tão pouco tempo as tantas repetições não seriam reais. Abre-se a outra porta, desce o homem grande, cara de quem repreende uma criança. Dá a volta por trás do carro, há outros carros, outro já parou mais à frente, aqui indecisa, o cruzamento indeciso. Levanta um corpo inerte e recoloca no carro quase de qualquer jeito, fazendo caber de volta. Vai.

Vamos todos, vai a rua, vai o vermelho-verde do semáforo, vai a caneta que marca a placa do carro no papel de rascunho que nunca mais vai ser olhado, parece que virou à esquerda, virei à direita, mas também o carro do homem com a mulher que cai-sai-joga-se de braços um pouco pra cima virou à direita, parou mais à frente. As vozes altas, ambos sentados que não vi, o vidro da frente estilhaçado e jamais será possível saber.

Rápido ali, até demais. Até perceber acabou e depois é extenso por dentro, aqui. Parar, desviar, perguntar, anotar, denunciar, socorrer (o que?). Ir embora. Podia ser dito em uma ou duas frases. Mas os braços amolecidos foram prolixos. Fica a impressão.

Enquanto isso, preparava uma manhã livre das horas para... Mas joguei-me-aram-me do carro na faixa de pedestres. Deu tempo de sair andando com naturalidade. O tempo.

domingo, 1 de fevereiro de 2009


a espera que escorrega
o que eu quero e não posso definir
não posso escolher
posso escolher
o sonho que havia dos frutos, da vida,
da geração de amores
das possibilidades
quem foi? fui eu, ou além?
o corte está indo a fundo
atravessa o planeta a lua que está pela metade
as massas sem pausa
intensifica acelera transborda rebate
anti/resolve e recomeça
as inquietas calamidades
com que direito o não-simples
da parte de nada de tudo que sou?
des-culpa-da-mente por nós
se fosse pelo entender
eu plantaria nossa próxima geração
arrancaria as dores e veria o fruto crescer.