terça-feira, 31 de julho de 2012


escavações

“Sabe que vendo esse vídeo eu fico pensando uma coisa? Que não parece que a bailarina está seguindo a música. Parece que a música é que está seguindo a bailarina” (Fran, 15, assistindo ao solo da última cena de “A Sagração da Primavera”, Pina Bausch)

“Quando ia começar aquela roda, me deu um nó na garganta, uma vontade de entrar” (Severino, 67, sobre improviso proposto no 2º Territórios)

É um terreno que parecem dois, tão distintas as suas grafias.
Certas procuras parecem revelar-se quase à mão. Durante as noites de quarta-feira, o tempo passa quase como um susto, e já foi, e deixa semanalmente a vontade de expandi-lo muito, ainda. Basta olhar, soprar com um pouco mais de intensidade, e as descobertas revelam-se grandes, muito grandes. Grandezas em sentidos múltiplos: em pluralidade de formas. Em entendimentos de sentidos. Em emoção vista nas lágrimas de quem se assiste, e de quem faz. Na percepção de que a potência do próprio corpo e do corpo do outro são construtoras de significados sempre além. No encontro entre diferenças tão grandes, ainda em aceitação. As contradições e oposições já norteavam esta pesquisa e caracterizam a própria formação paradoxal da turma, tão heterogênea quanto harmônica.
 Do movimento para a temática e da temática para o movimento, a relação entre alto-baixo-rápido-lento-intenso-suave-sofrer-sorrir-querer-não-querer-foco-difuso-novo-velho e outras histórias, levavam a improvisos diários em busca de reconhecimentos. Em um daqueles acidentes de mudança de espaço, quando uma sala está suja, e vamos ver se há outro espaço livre, e quem sabe no teatro, e sim ele está disponível essa noite, e então vai ser ali o nosso encontro, e aí começou a continuar. A experiência deste dia era um corpo-água X corpo-estruturado. Vieram outros nomes, de dentro para fora, depois do fazer: calmo X bruto / leve X pesado / derretido X tenso / ligado X dominado / ausente, solto, guerreiro, quebrado X possível, controlado / desmontado X montado / macio X firme. Corpo com mente e corpo sem mente, e o que significa isso, afinal? E a oposição espacial: estes corpos escorrem pela platéia, a princípio como a chave que faltava para a recepção do Territórios - e que contagiou imediatamente as escolhas de continuidade da pesquisa da turma.
Daqui por diante, então, o terreno de cadeiras vermelhas passa a ser escavado em busca de poéticas. A platéia torna-se palco, definitivamente.
De frente para este espaço preenchido de caminhos tanto quanto ainda vazio de corpos, lança-se a pergunta: que imagens tem ali? A lista é extensa e poderia não terminar: calabouço, labirinto, refúgio, cela, espera, mar, magia, confusão, fogo, surpresa, alegria, infinito, cores, pensamento, cabeças, falta, fragmento, perfeição, macabro, vazio, confinamento, gente. Os corpos se lançam a este espaço a partir de meta(s)(foras) diferentes: duplas, e é só ação - separar e/ou aproximar. Criam-se tantas relações quanto aquelas que não estavam pré-estabelecidas. Quanto menos personagens, mais histórias. A ação diz, é verbo que conta tudo. Ou solos, experimentados a partir dessa visualidade proposta pelo espaço.
Sentidos e formas começam a se fundir nas leituras de quem vê e de quem faz.
As questões que se estabelecem daqui por diante são em torno daquilo que o corpo desenha neste espaço, o que espaço e movimento tem a dizer, quais relações de composição são possíveis e quantos – e quais – baús se abrem nesse universo que se mostrou absolutamente provocador.
“Acho que na recepção do Territórios, quando a gente abriu o jogo para a platéia, teve gente que não foi imediatamente porque pensou: “aqui [palco-platéia] é o nosso espaço, e ali [platéia-palco] é o de vocês.” Depois eles perceberam que poderiam  se espalhar, e tinha gente em todo lugar.” (Bruno, 20)

Outras procuras são ainda tão primeiras, tão iniciais, que insinuam habitar outro espaço. Ao longo das manhãs de sábado, a materialidade revela-se líquida. Algo que não se mantém. As pessoas não se mantém, toda experiência toca tão de leve no que se busca como coletivo, que mal é possível perceber seu rosto. No entanto, despontam individualidades que surpreendem; são imersões em percepções profundas. Reconhecer-se no próprio corpo, aí, mostra-se tarefa de passos que pisam uma gota por vez.

(2o Ensaio de Pesquisa-Ação, Vocacional Dança 2012)


sexta-feira, 20 de julho de 2012

quinta-feira, 19 de julho de 2012

 
pelo corredor, essas poesias numa velhice abraçada, sussurros perto do ouvido, toque nos pés, mãos de suporte invertido anos depois, passos equilibristas, sorriso de filho e pai, olhos estalados ou quase pesados de história longa para trás e para frente, presentes no tempo suspenso do ritmo redesenhado, do cuidado e de seus sons.

sexta-feira, 13 de julho de 2012


Um bruxo em particular. "eu tinha 30, ela tinha 20 a gente - não. aí eu tinha 38 ela 28 - mas não. anos pra frente - não. aí hoje eu tenho 60 ela 50 às vezes ela me convida para tomar uma sopa - eu não fui acho que não vou. mas me dá uma pena sabe uma pena grande. mas era uma história sem paixão. Diferente dessa que você me conta. Essa tem muita paixão. Essa história de vocês tem muita paixão."
  

quinta-feira, 12 de julho de 2012


gotas líquidos recados madrugada punho fechado na madeira meio morta estava em queda tão profunda que era um corpo que não conseguia chorar.
 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

De Almodóvar, o vermelho visceral, o que move, o que é impulso, verdade, sem disfarce e não descola nunca mais. De Woody Allen, o sarcasmo leve e profundo, a desimportância de concluir e as imagens de querer viajar, indo ou não. De Neruda, o que é mar, e limpo, e música, força de onda rebentando. De Saramago, essa genialidade que arrepia por lucidez e loucura, sonho de realidade, lágrima de lembrança, pulso presente, vida pura. Atravessamento.