domingo, 30 de agosto de 2015

Que nomear o invisível é tarefa insistente, é como transmutar em palavra o que tem a mesma complexidade do tempo, o que tem tantas faces quanto enigmas, o que muda porque precisa, porque é também impreciso, mas mantém a cor. Daquilo que nos constitui, somos fruto, pulso e refazimentos. Algumas luzes não se apagam, elas gritam.
   

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Os olhos sumiram. Estavam lá, imagino, mas por trás de uma sombra qualquer fantasiada pelo meu olhar que não enxergava bem. Da neblina que meus olhos criaram naqueles, desenhei o que achei que poderia ver, pensando que quem traçava não era eu, talvez supondo que o que eu rabiscava, estava. Sem saber e sem sabermos eu escolhia cada intenção que pensava ver, possíveis que eram todas de emergir. Eu que sem ver, pensava que via, não via que os outros olhos devolviam o olhar, também. Não via que o que eu pensava que inventava, era.
para Abissal . iN SAiO Cia. de Arte
       

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Já comecei a pensar nisso durante. Eram três lugares de um mesmo outro corpo, um do prazer, um da indiferença, um do medo e frio. Não que tivesse que ser assim cartesiano, nada tinha que, mas era. Os líquidos que rolavam eram melhores se conduzidos por fora, a cabeça revê a vida e o peso era lugar de conforto. De todas as imagens, não sei se é deslumbre ou aflição. Eu tiraria a luz de cima e colocaria por dentro. Buscava calor. Do contrário (contrário nada) de mim, buscava calor. Um que viesse das cavernas de através. Do contrário que também era eu, buscava calor.

escrita desejada e não-automática
experimentos pela anatomia do movimento - letícia sekito . Abissal . iN SAiO Cia. de Arte

    

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Eu pequena pequena querendo saber alguma coisa do peso da ânsia do que passa pela cabeça lembrei agora da letra que esvaziou o peito esvaziou o ar esvaziou as margens (plácidas?) acho que não as forças são diferentes e penso em não querer mais que elas estejam tanto quanto querer muito alargar é um movimento quase fora do corpo que não habita do corpo que não sabe se está porque assim estão as desconexões opostas esvaziadas de novo sempre tão esvaziadas hoje do sempre de hoje se eu quisesse dar um nome seria o que a caneta não completa direito como se fosse uma descoordenação cada palavra.

escrita automática
experimentos pela anatomia do movimento - letícia sekito . Abissal . iN SAiO Cia. de Arte
   

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Eu começo pela ausência porque quero a presença no final. Agora você está faltando e no seu lugar fica um abismo. As palavras escapam. As lembranças dos anos o pensamento a sua primeira chegada os sons as lambidasbeijos o seu olhar a sua parceria o seu amor a companhia permanente os cuidados a teimosia os latidos insistentes a personalidade a sua namorada as casquinhas de pizza cenouras ossinhos bifinhos as conquistas os ciúmes os medos o carinho nas orelhas a zebrinha de presente (que tá aqui) as estratégias (suas e nossas) o espaço todo ocupado as suas escolhas e tudo o que agora a falta desenha uma nuvem na frente o tanto que eu te agradeço por ter existido nas nossas vidas o tanto que a sua importância é única. Acho que é a primeira vez em 12 anos que eu choro muito e você não tem como lamber as lágrimas. Foi como um susto porque o seu tempo é o da existência inteira, ágil, barulhenta, presente, e menos do que isso era muito pouco pra você. Eu que nunca acreditei em céu, hoje construo um sob medida pra você estar. A dor é nossa pra você poder respirar, e por mais que seja aguda eu prefiro sentir assim e poder ter compartilhado a sua existência encantada. Eu te beijei mas na verdade não sei despedir. Fica tranquilo. Obrigada, meu amor. Eu te amo pra sempre, pra sempre, pra sempre. Assim, você fica.