sexta-feira, 29 de outubro de 2010


Remeto-me ao tempo/texto de março, sete meses depois. Lá, tentamos. Muito ou pouco, entramos todos agora num espaço de suposições infinitas e sem respostas. De 1993 a 2010, a vida adolescente de lá atravessada por mais de quinze anos; imagem de hoje que não assimilo, as vozes amigas cúmplices nessa gigante interrogação. Fica a história de tantas descobertas, criações, belezas, palcos, risadas, textos, fotografias, escolhas de uma época em que parecíamos para sempre destinados inevitavelmente a sermos felizes. Hoje, tristeza e espanto. Silêncio.
  

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

escrever até entender dissolver reconstruir
caminhar até reconstruir perceber surpreender
histórias se cruzam com as ironias das memórias gestos tempos anos
retornos de vozes, olhares distantes imaginados
triplos sentidos aguçados
sonhos múltiplos
prevejo movimentos não identificados de dentro de mim.
  

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

                         
Para além da próxima escolha eleitoral, fico impressionada com tamanho furor que ainda causa qualquer proposição a respeito da legalização do aborto. E, mais ainda, com o tanto que isso envolve de maneira tão direta e incisiva as correntes religiosas com decisões políticas. Será mais um holofote camuflado pelo discurso do direito à vida, ainda que seja absolutamente sabido que as mulheres que de fato optam pelo aborto o fazem, proibido ou não, nas condições que puderem, mesmo que isso custe sua saúde ou sua vida?

Imagino que abortar não seja uma festa. É quase patético imaginar que a legalização transformaria uma escolha tão forte e marcante, corporal e emocionalmente, numa prática usual e banalizada. Quem opta por não fazê-lo por razões religiosas, que siga suas crenças e respeite-se nesse sentido. Mas não pode mais ser o estado (laico??) o responsável por mais essa decisão.

Imbuída inclusive de um desejo arrebatador de ser mãe, lamento profundamente ainda estarmos no tempo em que se acredita que temos o direito de decidir pelo outro. De proibir pelo outro. De escolher por alguém sobre assuntos absolutamente pessoais, em determinado âmbito, e que por outro lado revelam e reforçam visões públicas de segregação, conservadorismo e cheios de poeira por baixo dos tapetes.

Deixemos então que adoeçam, morram ou sejam presas as mulheres nas clínicas, quartinhos e cantos clandestinos. Que seja negado mais um direito de escolha, cercado da hipocrisia de uma sociedade que sabe que suas oficializações não regem, de fato, o comportamento de boa parte de seus cidadãos - uma vez que buscam dar a si o direito de escolha sobre suas próprias trajetórias.
              

terça-feira, 12 de outubro de 2010

                                    
Fissura alargada a cada tentativa de onde já prevejo o silêncio, mas ainda espero o som de vir, ou de me deixar ir, de perto, de perto, de perto; a fissura se desenha pelo corpo em cores mil, algumas insônias, imagens embaçadas nas suas ausências, nos espaços perdidos que não sei nomear; essa ansiedade que me faz conferir a não-presença a cada instante, os olhos na tela irreal, esperando sinais que chegam quando acho que não virão mais, os vãos se multiplicam de dentro de si, espelham-se na madrugada e se camuflam mal quando amanhece; pulsam por baixo dos dias práticos, e agitam-se sem meio termo na vida real das vontades e interiores daqui.
                                           

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

          
esperava por aquele-esse dia como quando criança esperava o dia da excursão, a mesma ansiedade dividida entre boa e insegura, porque os acontecimentos, mesmo, só se sabe depois que são; e aquele-esse dia já estava porque tinha passado da meia-noite: pro pedaço do dia que aguardava com todo o corpo, na verdade ainda faltava quase um dia inteiro, e era uma espera desenhada nos compromissos, nas vontades, nos sins e nãos e nas coincidências - fossem elas coincidências ou mais que isso; e era daquela espera que trazia reações, ritmos, alterava o pulso e a passagem do tempo, um tempo sempre incerto, distendido nos sumiços de um dia, reconstruído nos encontros nas esquinas, preenchido de lacunas
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lembrei pelo resto do dia do aglomerado paulistano, proximidade inevitável, se é que havia o que evitar, e da surpresa tão rápida quanto delicada, transparente e própria só de dois, deixando rastros na velocidade, com gosto de algo que conheço mas descubro melhor, e procuro no mundo até onde meu pensamento move os círculos ao redor.