domingo, 20 de fevereiro de 2011

   
A imagem tem sido assim difusa, cheia de cor e sem rosto, um pouco disforme. Mas de repente aponta em mim aquilo que é próprio e indiscutível, envolto em dourado maternal, e me mostra nos fatos ter participação tão complexa quanto tranquila. Como fui parar lá e por onde ainda andará essa curiosidade? Preciso procurar palavras para aquilo que me rodeia, e gostaria de viver na geração distante que nomeará, talvez com precisão, essas forças reais, na concretude de sua imaterialidade.
  
Oxum | Ed Ribeiro


domingo, 13 de fevereiro de 2011

                                             
Há meses atrás explodiu uma lâmpada por aqui, em muitos estilhaços. Agora fui eu que explodi, tantas lágrimas quantos aqueles cacos de vidro, ou infinitas mais, de felicidade e realização.
                            
Não sei mais onde moram meus ceticismos. Não sei se mudaram de nome ou lugar. Talvez por isso não pudesse ter ido embora para tão longe daquela vez: estava aqui, onde precisava, nas horas exatas, até o último instante. A lâmpada, os sonhos, as lágrimas, lembranças, idéias, estrada, insônias, a insistência sem dúvidas. Vi desenhos precisos nos encaixes de tempo, nas frases ouvidas, nas perspectivas reais e na materialização cheia de calma como nos meus pedidos contínuos em palavras e pensamento, cada coisa em seu lugar. Foi desejo e obstinação à prova das individualidades: todo o encontro faz sentido agora, quando entendo que talvez devesse ser por caminhos meus antes mesmo de eu saber. Os fatos estão aí, esperava há anos por essa imagem e, daqui por diante, ela não se dissolverá mais. Agora será assim para sempre.
Se um dia encontrar alguns nomes, compreenderei por lugares de raciocínio. Enquanto isso, observo.

Hoje vivo uma desordem sem nome, felicidade bagunçada no caminho que bateu numa pedra e mudou ferozmente o curso; fosse antes era diferente, mas o tempo foi esse. Então, revirada por dentro até a última gota. Percebendo as próprias sensações sanguíneas a todo momento. Sangue desmedido às vezes, mas de humanidade total. Sem meio termo e sem palidez, quente que escorre transparente e lava por dentro e por fora o que procuro reconhecer.
                    

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

novo texto em: http://www.projetomovola.com/ / veja em Sala.Blog
Projeto Mov'ola / estudos para CHrom.Aqui

(...) esse canal visível-invisível entre quem assiste e quem dança.
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Na véspera, em algum lugar da cidade é madrugada de descobrir música. Em outro, de finalizar figurino. Ou dormir. E o que acontece, afinal, quando se está de frente para o espetáculo pronto - ainda que o “pronto” seja sempre transitório...?
Muita gente na platéia, todos os dias. “Solo a dois” abrindo as noites, e o bom jogo entre duplos, imagens, reflexos, outros eus. Retomada de trabalho prazeroso e conciso. Reestréia também é começo, de qualquer maneira.
Em seguida o público atravessa o espaço e se acomoda novamente. Uma equipe, palco em branco, cubos e caixas, expectativas e estréia o “Chrom.Aqui”. Ao longo dos dias consecutivos da temporada, adrenalina, atenção, cansaço e realização alternam-se nos corpos, semblantes, movimentos, impressões. De um dia para o outro são pequenos detalhes acertados, mudanças sutis, revisão de algum tropeço ou imagem melhor encaixada. Entre as imagens geométricas nos figurinos e espaço cênico, as respirações carregam os corpos que desenham linhas de várias cores, impalpáveis, mas visíveis de algum modo. Tempo de abrir esse canal visível-invisível entre quem assiste e quem dança, num compartilhamento de gente para gente.
Foram 8 dias de início, o estudo está traçado, e há espaços para percorrer.
07 de fevereiro de 2011