sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

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Projeto Mov'ola / estudos para CHrom.Aqui

Fissuras nas camadas de movimento. Ficam suores e respirações.
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O espaço parece sempre inacabado. São vigas e fiações em cor de estrutura quase crua, cinza rústico. Ambiente propício para chegar e preencher. Há um som contínuo que permeia os ensaios, toques sutis e gotas que escorrem permanentemente.
As camadas de movimento são o ponto de partida espontâneo. De dentro das estruturas coreográficas, abrem-se fissuras para continuações, repetições, excertos, sobreposições, no exercício de recomposição. Os intérpretes desviam as rotas iniciais e comandam a si mesmos em constantes pedidos de modificações.
De onde vêm os movimentos? Da vontade de se mover. Das imagens sequenciais criadas pelos corpos no momento mesmo da criação. Desenham-se nítidos e fora do eixo, elásticos suspensos no tempo. Pontuam precisos e se dissolvem.
Daqui por diante há elementos cênicos no espaço. Apagam-se as luzes externas e a área de projeção cria beleza instantaneamente. Papel querendo virar madeira; o peso da imagem e do movimento dialoga com a brancura do espaço em ocupação. Empilhar e diluir “como castelo de areia dissolvido no chão”, achatando alturas estruturais num palco onde se sobressaem corpos tingidos pelas cores quadriculadas da luz projetada, junto aos sólidos neutros espalhados em organização pseudo-aleatória.
Um solo que transitará para o grupo, que por sua vez remete ao solo; público que transita pelo ambiente duplo, e fundem-se as estações como se não houvesse começo nem fim. Existe um incômodo na movimentação, que por vezes quase toca num impulso de violência, ainda que não intencional. Impressão de corpos manipulados que não dominam a si mesmos. Sua realidade em cena cria sentidos - e interroga quais imagens e significados, na dança, são ou não previamente planejados. Fluxo contínuo mesmo que por caminhos incompletos, que dão meia volta e tocam, e quebram, e olham, e recomeçam. Pausa. Ficam suores e respirações. Há gente por trás da constância do tempo, há gente na matéria da cena, há gente o tempo todo.
Por dentro das trilhas e imagens percebem-se resquícios do processo, que fecunda a si mesmo quando registra as passagens dos tempos de trabalho e lança, no palco, esses materiais. São vozes em ação: coreógrafo, direção, intérpretes, comentários, lembrar, refazer, perguntar; mixar tudo isso a acordes e ruídos e dançar processo já resultado, resultado ainda em processo.
"Esquece as mudanças, faz o que era”. “Então não é contrapeso, é força mesmo”. “Não pode ter furo na meia”. “Ai, esqueci”. Cansaço - 5 minutos - Fazer - 5 minutos. A prática resolve a cena.
20 de janeiro de 2011
    

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