quarta-feira, 28 de setembro de 2011

 
Noite/madrugada. Eu-clara, estrada ainda escura; encontrar som, movimento, calor e mais algumas interrogações. Vou a fundo no espelho solitário e silencioso, sou o espaço de cá. Redescubro o sentido do medo num recorte de percurso curto, alongado pelo abismo atrás e na frente que traz realidade para a relatividade do tempo. Atravesso. Chuva fina para o barro nos pés; nas batidas ao longe reconheço mais um retorno entre os cantos de nomes lindos que me aproximam. Observo como quem procura algum esboço de certeza, um só que seja, uma afirmação pequena que responda sobre. Dessa vez, o que quase escorre transparente é o não saber - além do som que retorna quando traz consigo quem fez a ponte entre um desejo e sua concretude impressionante. Do espanto, sei que observo os olhos fechados, abertos, entreabertos, as vozes e tudo o que me causa uma diversão desconfortável; brigo com minha própria desconfiança, sorrio amarelo porque discuto com o que enxergo. Os olhos podem dizer de quem está dentro deles? Talvez pudessem antes, mas nem eles são capazes agora. Vidas reais que tem alguma aparência de uma ficção estranhada. Se ver não basta mais, como escolho sentir? Minhas mãos ocupadas de doces, há pedidos, ordens, idiomas, funções e uma lagoa indefinida. Não consigo conjugar em terceira pessoa. Quem fala comigo? Confundo-me entre sensação, pensamento, sugestão, explicação, eloquências, imagens, realização, situações, nomes, conceitos, metáforas, alegorias; destaco-me do planeta e olho de fora essa brincadeira ingênua criada para que façamos disso, e de nós mesmos, algum sentido. Volto e quero entender esses mergulhos profundos. Entre compreender, duvidar e fundir, são inúmeras viagens de ida e volta em espiral. Amanheceu, e minha cabeça e corpo que não dormiram acordam junto com o dia emendado no anterior. Eu-clara, eu-interrogação.

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