sexta-feira, 29 de abril de 2011

     
Era 2010 e ela, aos 70 anos, ali experimentando a cena. Tinha uma força e potência revelada poucas vezes, e a malícia quase velada da sua turma em geral. A cena criada por todos e praticamente ditada pelo espaço fazia livros dançarem e suas histórias aleatórias serem lidas ao acaso. Foram dois encontros com o público. Dias depois, todos juntos revendo o percurso, ouvimos dela: "Eu não sei ler, né? Aí, quando a gente abria o livro pra ler pro público, eu ia contando uma história minha, que eu inventava." Por dentro, silêncio de alguns instantes, pegos de surpresa pelo que desconhecíamos e encantados com a sutileza da solução.
Era 2011 e quase 4 meses depois. Volta o processo; ela não está. Uma colega sua: "Ela não vem mais. Foi pra escola à noite, decidiu que queria aprender a escrever o nome, porque ela não sabia ler nem escrever, né? Aí resolveu ir aprender."
                 

Um comentário:

Tânia Liberato disse...

Que coisa mais linda. São pessoas assim que fazem o mundo valer a pena.