sexta-feira, 8 de abril de 2011
Horror. Crianças. Olhos estalados: tornamo-nos irremediáveis?
Revirada com isso tudo. Como dormir??
Tenho visto muitas referências ao referendo de 2005, e relembrei um texto que escrevi nessa época. Reli e não pareceu preciso mexer em nada - e já se passaram quase 6 anos. Compartilho novamente.
Essa história do referendo me fez pensar em algumas coisas.
Ainda que pareça uma votação deslocada (num momento de investigações múltiplas sobre corrupção e outros terrores...), o fato é que agora, de uma maneira ou de outra muita gente comenta o assunto.
O que me deixou bastante assustada nos últimos dias foi a profusão de inclinações para o "não" que passei a ler e escutar. Então, a solução para um país onde os índices de violência só aumentam é armar oficialmente a população? Começam a aparecer piadas e analogias a determinados momentos políticos em que os governos desarmaram a população para evitar revoluções populares. Sinceramente? Antes estivesse o povo brasileiro organizado para esse fim! Me parece justamente o contrário: ter uma arma aparece agora como símbolo de segurança individual (proteja seus bens, sua família, sua integridade) sem que se perceba que essa falsa sensação de proteção só aumenta o perigo e afasta o homem da humanidade.
Tudo poderá ser justificado como legítima defesa: o menino encostou no vidro do carro, o motorista atira. Aí os outros motoristas, bastante solidários, compram a briga: inúmeras mortes em nome da segurança. Ouve-se um barulho na porta de casa, atira-se. O assaltante reage - normalmente bem mais preparado -, alguém da família leva um tiro. Tudo em nome da paz. Adolescentes estúpidos da alta burguesia já queimaram mendigos, agora com acesso livre às armas a brincadeira pode ficar mais prática para eles. "Os bandidos saberão que a população está desarmada, eles se sentirão livres para agir". Ora, quanta ilusão pensar que o número de assaltos e crimes será reduzido se grande parcela da população estiver armada para "assustar o ladrão". Quem vive do crime não vai deixá-lo por medo do cidadão armado. Isso me parece extremamente claro. Imagino o número de homícídios e balas perdidas crescendo em progressão geométrica à medida que todo cidadão resolva exercer o seu direito à defesa.
Há alguns dias vi um morador de rua encostado em um poste, pele e osso (não deve sobreviver ainda muitos dias), já completamente fora de si pelos efeitos todos da miséria, conversando num telefone imaginário algum assunto importantíssimo. Falava com extrema verdade segurando um objeto que lhe parecia muito real. A cena era impressionante. É ao que está sendo reduzida a humanidade: miséria, alucinação e descaso. Aí sim começa a violência. E não é armando a população que se vai combater suas causas - nem aliviar suas consequências "temporariamente". Logo mais estaremos saindo às ruas armados até os dentes, montados em tanques de guerra, ao invés de ônibus, carro ou metrô. Assim estaremos mais seguros.
Ter direito a ter uma arma é ter direito de usá-la. É ter o direito de matar em nome do fim da violência. Nada me soa mais incoerente.
17 de outubro de 2005
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Um comentário:
Eu tento imaginar, como num filme de ficção científica, qual seria o melhor momento para interferir nesse caos todo. Seria na invenção da pólvora?
...
Infelizmente, entamos num planeta de pessoas bélicas, onde criar guerras, gira a economia, onde ter uma arma é símbolo de poder. Um pseudo poder. Um estúpido poder.
Poder de deixar os de paz em choque.
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