quinta-feira, 24 de setembro de 2015

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Quis olhar com alguma distância. Que estivesse próximo, atravessado até, mas ali em outro lugar. Olhava quase por baixo, de certa forma diretamente, mas mais os caminhos e vultos do que aquilo que devolvia o olhar. Essa vibração sempre, tão própria, tão invisível, que não sabe se move ou estagna. Corpo mais largo por dentro do que por fora, corpo desencontro em si, partes que dos múltiplos que querem alcançar, às vezes não são. O profundo é sim e não, e sim e não, embate laceado, dureza chovendo frouxa até alagar. Desgaste profundo que vira ânsia, lágrima, raiva e então expansão. Silenciosa, interna. Quando-quanto foi mais pra fora, mais foi o avesso que ocupou os olhos que atravessaram, avesso-se, me, olhar-te-a-si.
     para Abissal . iN SAiO Cia. de Arte
   

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A gaveta fechada é que está povoada de gente. Ali tem os esboços que me rodeiam, e aqueles que me convivem. Ali a escuridão me mostra todos, habitamos juntos na profusão de ruídos e presenças. Quando luz, é o vazio. Como se antes, imediatamente, pouco tivesse existido. Eu solta, no meio, quase capaz de ocupar o espaço maior do que ele é. Solta na própria órbita, mas enganchada pelos rabiscos do escuro, pendulando entre as fronteiras. A gaveta e a luz se confundem. Fechar e abrir é instante. Tamanho. E ausência, ou.
   para Abissal . iN SAiO Cia. de Arte
      

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A ironia fala do tanto que não se ignora o ridículo de ser gente, não se ignora o ridículo, não se ignora. Esse riso amargo tem o gosto do que embaixo de nós, há. Acima e ao lado, e por dentro; esse riso que vaza quando são os excessos de preenchimento.
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É tudo pretexto para que isso não deixe de acontecer. Eu te-me-nos conecto por um fio, tu me-te-nos conecta por um sopro. O espaço ao redor de nós, todos nós, nos-te-me-nos conecta ainda que pela ausência, e essa ausência tem(e) o peso dos silêncios áridos, ácidos, silêncios queimados, rastros dos restos dos pedaços de som. Há sempre milhares de janelas por onde as cabeças (sempre elas) dos vizinhos alongam os pescoços espiralados. Querem fazer parte do que é alheio, querem conectar-se-nos-todos, mesmo que em fragmentos.
para Abissal . iN SAiO Cia. de Arte
    

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Ato único. | banheiro de shopping center - a segurança e a faxineira ao vivo - o supervisor citado - uma não pode conversar com a senhora que puxou assunto - a outra não pode falar mais do que "depois da escada rolante" ou "no final do corredor" - uma sugeriu que então só os mudos entrassem ali - a outra teve o tempo do banheiro rastreado pelas câmeras ("ainda bem que foram só 5 minutos") - nenhuma pode se dirigir às lojas se estiver de uniforme - uma só pode assegurar o bem estar dos frequentadores - a outra só pode assegurar a limpeza para os frequentadores - uma só pode limpar o chão - a outra só pode garantir a ordem - no tempo cronometrado trocamos algo sobre exploração . preconceito . o filme que está explodindo . o funcionamento que estabelece os lugares onde se pode e não se pode ser . as denúncias - a porta do banheiro é atravessada por elas de volta ao mundo ordenado e limpo - limpo e ordenado pelas duas que ali não deveriam existir para além da função de não existirem - para além da função de só funcionarem - para além da função de serem úteis e invisíveis - para além da função de transmutarem-se (mudas) em função. | Fim. | Ou outro começo.
 

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Cabeças pendem pela gravidade. Ou gravitam em volta de si mesmas, ancoradas num não-se-sabe-o-quê. Acontece que quanto mais vácuo, menos o peso de cada cabeça cabe em si - a não ser pelo disfarce, pelo patético da gente. A cabeça esconde o que não se sustenta enquanto faz de conta que sim. Então que as cabeças des-conduzem o espaço-do-todo (cabeça também, de cérebro magma), essas que acham que encontram, ocas e retrocessas. Até que voam, e o peso é espaço, ou revoam, e o peso é lava.
para Abissal . iN SAiO Cia. de Arte
    

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Fazia tanto silêncio quanto a inquietude podia constituir. Era pr'aquele outro pedaço confundido de mim que eu olhava, aquele que quase vomita, que seca escapando dos naufrágios, mas úmido ainda. Esse pedaço duplicado seguia o acordo aflorado durante, e que tinha tamanho um pouco maior que o limite de um outro pedaço - este mais material que simbólico. Enquanto isso, aquele silêncio acobertava um canto contínuo que já havia sido som e agora era suposição. O canto intermitente seria como desgaste: necessário.
para Abissal . iN SAiO Cia. de Arte