sexta-feira, 18 de junho de 2010

        
Tantas e imensas palavras. Mesmo tão distante e alheio à minha vida, parece existir tão perto de mim.
Algumas pessoas realmente deveriam ficar pra sempre por aqui. Pena.

"(...) aquele era nada mais nada menos que o meu primeiro balão em todos os seis ou sete anos que levava de vida. Íamos nós no Rossio, já de regresso a casa, eu impante como se conduzisse pelos ares, atado a um cordel, o mundo inteiro, quando, de repente, ouvi que alguém se ria nas minhas costas. Olhei e vi. O balão esvaziara-se, tinha vindo a arrastá-lo pelo chão sem me dar conta, era uma coisa suja, informe, e dois homens que vinham atrás riam-se e apontavam- me com o dedo, a mim, naquela ocasião o mais ridículo dos espécimes humanos. Nem sequer chorei. Deixei cair o cordel, agarrei-me ao braço da minha mãe como se fosse uma tábua de salvação e continuei a andar. Aquela coisa suja, enrugada e informe era realmente o mundo."

"Tu estavas, avó, sentada na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para céu que nada sabias e por onde nunca viajarias, e disseste, com a serenidade dos teus noventa anos e o fogo de uma adolescência nunca perdida: "O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer". Assim mesmo. Eu estava lá."

                                           (José Saramago)
  

Um comentário:

Milene Paula disse...

"Tu estavas, avó, sentada..." Quem mais utilizará tão bem as palavras? Quem nos proporcionará ilhas a descobrir? Por quem procuraremos quando estivermos em Portugal? Estamos todos, orfãos, de José Saramago.