quinta-feira, 29 de novembro de 2012


Hoje eu dei um abraço no Tom Zé. Boniteza demais naquele pequeno homem genial, que diz não se importar com uma pausa no café: "Eu gosto de fazer amigos". Tietagens à parte, sendo o Tom Zé eu me dou o direito de ficar muito feliz.
 

das criações, pessoas e afetos

“A partir de agora eu danço break, popping e contemporâneo.” (Bruno, 20)

Muito me perguntei qual seria o caráter que escolheria atribuir a este ensaio. Revisão? Análise? Percepção poética? Dedicatória e agradecimento? Crise e contradição? A última escrita deste ano vem junto com a sensação de que o processo apenas começou, ao mesmo tempo em que foram percorridos tantos e distintos caminhos, que racionalmente me pergunto como foram traçados em apenas alguns meses.
A resposta, me parece, está nas pessoas. É com elas, e por elas, que o encontro e a criação acontecem (ou não), e são suas muitas personalidades, anseios, saltos, seus surgimentos e desaparecimentos inesperados que desenham as direções nada objetivas deste Programa que se constrói a partir do inesperado.
Com isso, então, diante da dificuldade de definir um foco único (coisa que talvez nem seja de fato necessária), optei por retomar na lembrança viva e bastante presente os corpos em movimento dos vocacionados com os quais tive o prazer e privilégio de conviver ao logo destes meses. Tento supor o que os moveu (empresto a famosa frase de Pina Bausch - “Não me importa como as pessoas se movem, mas o que as move”). Discutimos corpo, cena, compromisso, horário, respeito, grupo, escolhas, datas, relacionamentos, jogo, significados, sensações. E penso que a amplitude de pensamento abraçada por este projeto é uma conquista ímpar, necessária, e por vezes tão encantadora quanto frustrante, porque nos coloca diante de crises e ansiedades como em qualquer outro processo criativo sobre os quais, por vezes, perdemos o domínio. Ao mesmo tempo, é este trajeto de conquistas, impaciências, conflitos e olhares que nos aproxima uns aos outros, revela escolhas e detona variadas explosões.
Os vocacionados de uma das turmas deste ano trouxeram consigo uma “feitiçaria qualquer” que fez com que a turma tivesse uma harmonia impressionante desde o começo. “Feitiçaria” que não exclui o fato de vários deles já terem estado juntos em outros contextos, seja em turmas do próprio projeto, seja em grupos paralelos. E “feitiçaria”, também, não sem conflitos nem perdas, não sem questões. Mas algo em comum entre eles habitou os encontros artísticos e sensíveis e potencializou seus corpos de maneira intensa e cheia de qualidade. A outra turma parecia não existir concretamente; foi uma realidade bastante oscilante por muito tempo. De repente, transformou-se. Saltou. E saltou no meio de um período complicado, com muitos encontros modificados por conta de fechamentos do CEU; mudou no momento em que tinha tudo para se desfazer e, ao contrário, parece que se encontrou.
Com a primeira, chegamos a uma exploração do espaço que inverteu a relação palco-platéia, discutindo e provocando-a. Com a segunda, criamos a partir das ideias de manipulação, liberdade, (in)dependência, reconhecimento de si e do outro. Em ambos os casos, a disponibilidade, presença e maturidade cênica conquistadas pelos vocacionados construíram um forte estado de compreensão e descoberta de que o caminho é cheio de novas passagens. (“Enquanto La loba canta, o lobo abre os olhos, salta e corre livre, na direção do horizonte.”*). Mais uma vez, por coincidência ou outro motivo qualquer, estive com turmas formadas por pessoas muito, muito diferentes, a começar pela idade. Há tempos esta mistura me encanta e procuro contribuir para que possamos jogar com isso, jogar cenicamente, criativamente, todo o tempo.
Então chego hoje, ao finalizar as escritas sobre estes processos, considerando menos importante para este momento descrever as práticas e criações. Isto pelo fato de que seus elementos vivos estão gravados ali, naqueles corpos atuantes, e não nas minhas palavras, que já buscaram dar conta destes caminhos em textos anteriores. Para agora, o que considero pertinente é reforçar a dimensão desta atuação artística, pedagógica, política que é ser produtor de arte - coisa que fazemos todos, equipe e vocacionados, a partir do momento em que nos dispomos a perceber nossa matéria-gente como potência de encontro e expressão.

Aproveito este texto para agradecer à equipe Sul 1 (Isabela Santana, Adriana Gerizani, Ana Sharp e Carolina Nóbrega) pela escuta que desenvolvemos, compartilhando processos, crises, ações, possibilidades, pesquisas, histórias, vocacionados (literalmente...!!). Agradeço também à coordenação de cultura do CEU Alvarenga (Radi Oliveira, Edel Vecci e Rafael Galli), junto a todos os funcionários deste equipamento, pelas poesias, cantos, saraus, participação, entendimento e presença tão importantes para que as parcerias aconteçam efetivamente. E, com intensidade e afeto, agradeço imensamente a cada um dos vocacionados que passaram por este trajeto, seja por um dia ou todos os meses, por contribuírem de forma genuína e profunda para que eu também pudesse me reconhecer em cada um deles.

(4o Ensaio de Pesquisa-Ação, Vocacional Dança 2012)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

 
Deslizar pelas frestas abertas entre os muros imaginários. Desmontá-los cuidadosamente para que virem pó, pedra, ar e construção.
 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Da cronologia inversa

#3
É que o grito, quando é cor, espalha mesmo que mudo. Salta. Vence a surdez, porque é encontro.

#2
Um grito cheio de cor. Urgente, de dentro dos olhos. Menos que isso, não.

#1
Grafias. Para que dêem conta dos movimentos de dentro. Do tempo.
 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Meu corpo, palavra imagem música. O tempo, páginas de toda cor. Amor, sempre verso. Pensamento, estrada em projeção. Nascimento, coisa de todo dia. Falar e ouvir. Tela. Pelos. Poros.