sábado, 29 de dezembro de 2012

Pro que vai virar, corpo presente, cabeça e energia no ar, na terra, na poesia, no movimento, na vida; isso que constrói as gentes e as coisas todas. Por perto os silêncios que também dizem, essas palavras mudas. E todos os sons, sonos, sonhos, sóis, chuvas e as luas das madrugadas infinitas. Cheiros cheios de gosto. Gerar. Em passo por salto por voo por passo por voo, vem-vindo-sendo-já-é essa casa que se habita no trajeto, essa casa-sempre, casa-história, tão raiz quanto deslocamento, tão parede quanto nuvem, tão arrepio quanto aperto, tão grito quanto imóvel, tão certa quanto surpresa, tão amor.
 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012


Palavras de saquê, reticências na voz desconhecida. As horas ocupadas com rapidez de brincadeira boa, com símbolos recíprocos de muitas compreensões. Endereço num caminho tão perto quanto aquilo que se atravessa num passo largo de madrugada. Grafias. Goles. Gotas. Mistérios. Surpresas. Supermercados. Sinestesias. Gritos indefinidos assim; sem saber quem, sem saber como, com sons em torno de cores às vezes silenciosas, num quando a vir, a preencher.
   

terça-feira, 18 de dezembro de 2012


Chuva pra um tempo que quase perde a relatividade; distende-se enquanto as gotas ecoam sem som.
 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012


...onde repouso um coração disparado?...

"A alegoria chega quando descrever a realidade já não nos serve." (J. Saramago)
...respira, que o tempo dilata...
...se a vida engole a gente, que seja gole a gole, pra gente poder sentir o gosto também... 
 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

   
Coração palpita aperta salta - gente age espera reage - corpo atrai existe respira é. Meus olhos nas concretas abstrações, meu toque atravessa perspectivas. Mundo é giro.
   

quinta-feira, 29 de novembro de 2012


Hoje eu dei um abraço no Tom Zé. Boniteza demais naquele pequeno homem genial, que diz não se importar com uma pausa no café: "Eu gosto de fazer amigos". Tietagens à parte, sendo o Tom Zé eu me dou o direito de ficar muito feliz.
 

das criações, pessoas e afetos

“A partir de agora eu danço break, popping e contemporâneo.” (Bruno, 20)

Muito me perguntei qual seria o caráter que escolheria atribuir a este ensaio. Revisão? Análise? Percepção poética? Dedicatória e agradecimento? Crise e contradição? A última escrita deste ano vem junto com a sensação de que o processo apenas começou, ao mesmo tempo em que foram percorridos tantos e distintos caminhos, que racionalmente me pergunto como foram traçados em apenas alguns meses.
A resposta, me parece, está nas pessoas. É com elas, e por elas, que o encontro e a criação acontecem (ou não), e são suas muitas personalidades, anseios, saltos, seus surgimentos e desaparecimentos inesperados que desenham as direções nada objetivas deste Programa que se constrói a partir do inesperado.
Com isso, então, diante da dificuldade de definir um foco único (coisa que talvez nem seja de fato necessária), optei por retomar na lembrança viva e bastante presente os corpos em movimento dos vocacionados com os quais tive o prazer e privilégio de conviver ao logo destes meses. Tento supor o que os moveu (empresto a famosa frase de Pina Bausch - “Não me importa como as pessoas se movem, mas o que as move”). Discutimos corpo, cena, compromisso, horário, respeito, grupo, escolhas, datas, relacionamentos, jogo, significados, sensações. E penso que a amplitude de pensamento abraçada por este projeto é uma conquista ímpar, necessária, e por vezes tão encantadora quanto frustrante, porque nos coloca diante de crises e ansiedades como em qualquer outro processo criativo sobre os quais, por vezes, perdemos o domínio. Ao mesmo tempo, é este trajeto de conquistas, impaciências, conflitos e olhares que nos aproxima uns aos outros, revela escolhas e detona variadas explosões.
Os vocacionados de uma das turmas deste ano trouxeram consigo uma “feitiçaria qualquer” que fez com que a turma tivesse uma harmonia impressionante desde o começo. “Feitiçaria” que não exclui o fato de vários deles já terem estado juntos em outros contextos, seja em turmas do próprio projeto, seja em grupos paralelos. E “feitiçaria”, também, não sem conflitos nem perdas, não sem questões. Mas algo em comum entre eles habitou os encontros artísticos e sensíveis e potencializou seus corpos de maneira intensa e cheia de qualidade. A outra turma parecia não existir concretamente; foi uma realidade bastante oscilante por muito tempo. De repente, transformou-se. Saltou. E saltou no meio de um período complicado, com muitos encontros modificados por conta de fechamentos do CEU; mudou no momento em que tinha tudo para se desfazer e, ao contrário, parece que se encontrou.
Com a primeira, chegamos a uma exploração do espaço que inverteu a relação palco-platéia, discutindo e provocando-a. Com a segunda, criamos a partir das ideias de manipulação, liberdade, (in)dependência, reconhecimento de si e do outro. Em ambos os casos, a disponibilidade, presença e maturidade cênica conquistadas pelos vocacionados construíram um forte estado de compreensão e descoberta de que o caminho é cheio de novas passagens. (“Enquanto La loba canta, o lobo abre os olhos, salta e corre livre, na direção do horizonte.”*). Mais uma vez, por coincidência ou outro motivo qualquer, estive com turmas formadas por pessoas muito, muito diferentes, a começar pela idade. Há tempos esta mistura me encanta e procuro contribuir para que possamos jogar com isso, jogar cenicamente, criativamente, todo o tempo.
Então chego hoje, ao finalizar as escritas sobre estes processos, considerando menos importante para este momento descrever as práticas e criações. Isto pelo fato de que seus elementos vivos estão gravados ali, naqueles corpos atuantes, e não nas minhas palavras, que já buscaram dar conta destes caminhos em textos anteriores. Para agora, o que considero pertinente é reforçar a dimensão desta atuação artística, pedagógica, política que é ser produtor de arte - coisa que fazemos todos, equipe e vocacionados, a partir do momento em que nos dispomos a perceber nossa matéria-gente como potência de encontro e expressão.

Aproveito este texto para agradecer à equipe Sul 1 (Isabela Santana, Adriana Gerizani, Ana Sharp e Carolina Nóbrega) pela escuta que desenvolvemos, compartilhando processos, crises, ações, possibilidades, pesquisas, histórias, vocacionados (literalmente...!!). Agradeço também à coordenação de cultura do CEU Alvarenga (Radi Oliveira, Edel Vecci e Rafael Galli), junto a todos os funcionários deste equipamento, pelas poesias, cantos, saraus, participação, entendimento e presença tão importantes para que as parcerias aconteçam efetivamente. E, com intensidade e afeto, agradeço imensamente a cada um dos vocacionados que passaram por este trajeto, seja por um dia ou todos os meses, por contribuírem de forma genuína e profunda para que eu também pudesse me reconhecer em cada um deles.

(4o Ensaio de Pesquisa-Ação, Vocacional Dança 2012)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

 
Deslizar pelas frestas abertas entre os muros imaginários. Desmontá-los cuidadosamente para que virem pó, pedra, ar e construção.
 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Da cronologia inversa

#3
É que o grito, quando é cor, espalha mesmo que mudo. Salta. Vence a surdez, porque é encontro.

#2
Um grito cheio de cor. Urgente, de dentro dos olhos. Menos que isso, não.

#1
Grafias. Para que dêem conta dos movimentos de dentro. Do tempo.
 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Meu corpo, palavra imagem música. O tempo, páginas de toda cor. Amor, sempre verso. Pensamento, estrada em projeção. Nascimento, coisa de todo dia. Falar e ouvir. Tela. Pelos. Poros.
 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

jogos para dançar

Primeira participação de 6 (6!!!!) novas vocacionadas. Não sei como, mas chegaram ali-aqui no último dia de setembro. Fizemos uma retomada de improviso que já havia sido trabalhado. No final, pergunto como foi esta experiência para quem tinha chegado hoje e estava caindo de paraquedas na cena. Amanda: “Esta dança é de dentro pra fora. E se é de dentro pra fora, a gente não caiu de paraquedas. A gente entrou e dançou com o sentimento.”

Continuo habitando dois espaços bastante distintos, mas agora ambos têm um rosto que os caracteriza com alguma identidade.

Sábados antes líquidos e incertos. Até que um dia conseguimos entender quem constitui a turma (mesmo que ainda cheia de variações) e descobrimos dentro da sala um muro. Uma mureta, literalmente, rodeada por verbos que se multiplicam a cada semana. A dança começa a surgir no meio do jogo, entre esconder, tocar, roubar o espaço do outro, procurar, acolher, aconchegar, esperar, seguir. Escolhidos antes ou durante a ação, os verbos detonam sequências, relações, contextos. O espaço amplo da sala de dança tornou-se lugar de preparação, para depois ocuparmos essa mureta. Ela foi ficando. Foi ficando. Foi sendo experimentada. Ao mesmo tempo em que turma foi se formando. Foi se formando. Foi se experimentando. Perdeu gente, ganhou gente, hoje, ainda. Isso renova mas também desestabiliza.
Apareceu humor, também. Difícil isso do humor na dança, e é bom quando surge, é muito bom, mas como é delicado retomar o que aconteceu com o mesmo frescor. Agora, a cada semana, tentamos começar a definir o que fica, o que se repete, o que se cria de novo. Haverá interferência da platéia? O jogo fica aberto o tempo todo, e as indicações dadas na hora conduzem as ações? Mas há instantes tão poéticos, outros muito engraçados, vamos manter e deixar tudo misturado?
Falamos muito sobre escuta, porque é jogo. As regras surgem para nortear, e para que possam ser ultrapassadas. Encontrar “comos” de ultrapassagens tem sido o trabalho, num espaço que tem todo mundo diferente junto: quem está por ali há tempos e quem literalmente acabou de chegar. Quem chega disponível para qualquer experiência e quem tem uma preguiça visível que parece não ser vencida por coisa alguma. E aí, o entendimento do processo, das vontades e das possibilidades é muito diferente - e não menos surpreendente. Quando parece que a turma se harmonizou completamente, tem gente que não volta. E às vezes quem você menos espera está ali sempre, se/nos alimentando de percepções e contribuições.
Os passos a seguir serão definidos a cada dia, não sem uma preocupação prática com os sábados desviados de outubro, por conta de calendários que nos deixam sem lugar. Mas a criação que se desenha fica fora do palco, acontece na mureta da sala de dança do 4º andar (por trás, por cima, na frente, em torno), e faz os corpos criarem relações de reconhecimento, procura, espaço. Qual espaço ocupo? Qual espaço ocupo em todos os sentidos?
Há um “irmão-mascote” de 8 anos que normalmente assiste ao encontro. Dia desses, jogou-se em cena e virou bailarino da ação também. Este encontro entre um e outro, e outro e o um, é parte imensa do que faz sentido.

Enquanto isso, nas noites que eram às quartas e mudaram para terças, o trabalho permanece harmônico na sua diferença diluída, e o grande passo agora é a tentativa de escolha. Ocupamos a platéia do teatro sempre que ela esteve disponível, e experimentamos muita coisa por ali. Antes de chegarmos nesse espaço, percorríamos as oposições de movimento, as contradições, os contrários. Acabamos por deixar que esse elemento escorresse para a inversão no espaço cênico. Mas agora, o que queremos com isso, afinal?
A turma está com este processo inscrito para o Festival Vocacional desde agosto. Levando em conta que eram quase 3 meses de antecedência (o festival acontecerá em novembro), como dizer o que será o trabalho? Bom pretexto para pensarmos sobre o que vem sendo desenvolvido. Se fôssemos outras pessoas, se estivéssemos fora do processo e assistíssemos às experimentações feitas até aqui, o que nos perguntaríamos? Surgem questões de “dentro-fora”: “O que vocês querem com isso?” / “Qual é a sua?” / “Qual reação você quer provocar no público?”
Algumas respostas giram em torno de “Despertar curiosidade na platéia” / “Testar o outro lado” / “Trocar os papéis” / “Assistir ao público” / CAUSAR EFEITOS, CAUSAR EMOÇÕES.
E então a gente começa a retomar algumas coisas. Aproximar a afastar, no cenário da platéia vermelha vazia. Sumir e aparecer. Desenhos em linhas horizontais, velocidade. Corpos escorrendo de cabeça pra baixo pelas escadas da platéia. Conversas com o público. Espelho à distância, espelho invertido. Encontros. Desistências. E as trilhas sonoras? Queria pensar em referências outras nesse universo, para compartilhar com eles, mas ainda não consegui. Escolher. Ai.

Em ambas as turmas encontro corpos que desejam aprender possibilidades de movimento tanto na criação quanto no aspecto puramente técnico, do estudo de caminhos físicos ainda sem significados além - desejo do qual compartilho. Algo como sequência, memória, coordenação, pra depois detonarem a criação. E são corpos tão diferentes, coisa que me desafia a pensar por quais caminhos podemos chegar a algumas possibilidades e adaptações. Às vezes dá certo, em outras, só o tempo (ou nem ele?).

Neste caminho esbarro também com questões além da vontade. Tanto nos Territórios como em ações que surgem para substituir orientações em dias em que o CEU está fechado, me deparo com falta de dinheiro, riscos de transitar pelas ruas com menores de idade, autorização de pais. Ao mesmo tempo, penso que são questões importantes de serem enfrentadas no trajeto de quem quer se envolver com arte. Estaciono alguma conclusão neste espaço contraditório entre as condições que temos, as que não temos e aquelas que “arranjamos”, e penso que deva haver uma mediação cuidadosa aí para saber em que situação optar por encarar uma ação ou abrir mão dela.

Surpreender-se o tempo inteiro e ter uma certa angústia de como amarrar as experiências. As agendas conversam conosco e tem eleição dedetização festival mostra sarau e tem as cabeças querendo dizer um monte de coisas e os corpos desejando criar e os encontros que transformam três horas em muito pouco tempo. O tempo de conceber de repente quase parece que já acabou quando na verdade este tempo é sempre, e ainda há tudo para dançar.

(3o Ensaio de Pesquisa-Ação, Vocacional Dança 2012)
 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Contra o Russomanno. Contra o Serra. Contra o conservadorismo, o reacionarismo, a continuação do enterro em massa da cultura, da educação, da saúde. Contra os massacres e incêndios "acidentais" nas favelas. Contra os shoppings disfarçados de igreja usurpando dinheiro, usando os fiéis, difundindo como água o preconceito e o atraso social, essa moralidade estúpida usada há séculos a favor do poder de poucos e prejuízo de muitos. Contra o Russomanno. Contra o Serra. Percebe o que acontece há anos nessa cidade com as últimas gestões, metrópole!
Torcendo demais pra não precisar ficar de luto por São Paulo no final dessas eleições.
   

domingo, 30 de setembro de 2012

É que música me atravessa os poros, e é bom chorar de emoção porque o Chico Buarque nunca deixa de fazer isso comigo, e a dança é esta forma de dizer, e neste lugar de hoje encontrei já há um tempo pessoas lindas, muitas, e a lua está num redondo imperdível.
 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Querer decifrar os sonhos como se fosse possível que neles coubessem todos os sentidos.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012


quando surge o poço dos desejos eu salmoura corte de cabelo surpresa vinho apartamento dança massagem cinema chocolate avião.
 

terça-feira, 31 de julho de 2012


escavações

“Sabe que vendo esse vídeo eu fico pensando uma coisa? Que não parece que a bailarina está seguindo a música. Parece que a música é que está seguindo a bailarina” (Fran, 15, assistindo ao solo da última cena de “A Sagração da Primavera”, Pina Bausch)

“Quando ia começar aquela roda, me deu um nó na garganta, uma vontade de entrar” (Severino, 67, sobre improviso proposto no 2º Territórios)

É um terreno que parecem dois, tão distintas as suas grafias.
Certas procuras parecem revelar-se quase à mão. Durante as noites de quarta-feira, o tempo passa quase como um susto, e já foi, e deixa semanalmente a vontade de expandi-lo muito, ainda. Basta olhar, soprar com um pouco mais de intensidade, e as descobertas revelam-se grandes, muito grandes. Grandezas em sentidos múltiplos: em pluralidade de formas. Em entendimentos de sentidos. Em emoção vista nas lágrimas de quem se assiste, e de quem faz. Na percepção de que a potência do próprio corpo e do corpo do outro são construtoras de significados sempre além. No encontro entre diferenças tão grandes, ainda em aceitação. As contradições e oposições já norteavam esta pesquisa e caracterizam a própria formação paradoxal da turma, tão heterogênea quanto harmônica.
 Do movimento para a temática e da temática para o movimento, a relação entre alto-baixo-rápido-lento-intenso-suave-sofrer-sorrir-querer-não-querer-foco-difuso-novo-velho e outras histórias, levavam a improvisos diários em busca de reconhecimentos. Em um daqueles acidentes de mudança de espaço, quando uma sala está suja, e vamos ver se há outro espaço livre, e quem sabe no teatro, e sim ele está disponível essa noite, e então vai ser ali o nosso encontro, e aí começou a continuar. A experiência deste dia era um corpo-água X corpo-estruturado. Vieram outros nomes, de dentro para fora, depois do fazer: calmo X bruto / leve X pesado / derretido X tenso / ligado X dominado / ausente, solto, guerreiro, quebrado X possível, controlado / desmontado X montado / macio X firme. Corpo com mente e corpo sem mente, e o que significa isso, afinal? E a oposição espacial: estes corpos escorrem pela platéia, a princípio como a chave que faltava para a recepção do Territórios - e que contagiou imediatamente as escolhas de continuidade da pesquisa da turma.
Daqui por diante, então, o terreno de cadeiras vermelhas passa a ser escavado em busca de poéticas. A platéia torna-se palco, definitivamente.
De frente para este espaço preenchido de caminhos tanto quanto ainda vazio de corpos, lança-se a pergunta: que imagens tem ali? A lista é extensa e poderia não terminar: calabouço, labirinto, refúgio, cela, espera, mar, magia, confusão, fogo, surpresa, alegria, infinito, cores, pensamento, cabeças, falta, fragmento, perfeição, macabro, vazio, confinamento, gente. Os corpos se lançam a este espaço a partir de meta(s)(foras) diferentes: duplas, e é só ação - separar e/ou aproximar. Criam-se tantas relações quanto aquelas que não estavam pré-estabelecidas. Quanto menos personagens, mais histórias. A ação diz, é verbo que conta tudo. Ou solos, experimentados a partir dessa visualidade proposta pelo espaço.
Sentidos e formas começam a se fundir nas leituras de quem vê e de quem faz.
As questões que se estabelecem daqui por diante são em torno daquilo que o corpo desenha neste espaço, o que espaço e movimento tem a dizer, quais relações de composição são possíveis e quantos – e quais – baús se abrem nesse universo que se mostrou absolutamente provocador.
“Acho que na recepção do Territórios, quando a gente abriu o jogo para a platéia, teve gente que não foi imediatamente porque pensou: “aqui [palco-platéia] é o nosso espaço, e ali [platéia-palco] é o de vocês.” Depois eles perceberam que poderiam  se espalhar, e tinha gente em todo lugar.” (Bruno, 20)

Outras procuras são ainda tão primeiras, tão iniciais, que insinuam habitar outro espaço. Ao longo das manhãs de sábado, a materialidade revela-se líquida. Algo que não se mantém. As pessoas não se mantém, toda experiência toca tão de leve no que se busca como coletivo, que mal é possível perceber seu rosto. No entanto, despontam individualidades que surpreendem; são imersões em percepções profundas. Reconhecer-se no próprio corpo, aí, mostra-se tarefa de passos que pisam uma gota por vez.

(2o Ensaio de Pesquisa-Ação, Vocacional Dança 2012)


sexta-feira, 20 de julho de 2012

quinta-feira, 19 de julho de 2012

 
pelo corredor, essas poesias numa velhice abraçada, sussurros perto do ouvido, toque nos pés, mãos de suporte invertido anos depois, passos equilibristas, sorriso de filho e pai, olhos estalados ou quase pesados de história longa para trás e para frente, presentes no tempo suspenso do ritmo redesenhado, do cuidado e de seus sons.

sexta-feira, 13 de julho de 2012


Um bruxo em particular. "eu tinha 30, ela tinha 20 a gente - não. aí eu tinha 38 ela 28 - mas não. anos pra frente - não. aí hoje eu tenho 60 ela 50 às vezes ela me convida para tomar uma sopa - eu não fui acho que não vou. mas me dá uma pena sabe uma pena grande. mas era uma história sem paixão. Diferente dessa que você me conta. Essa tem muita paixão. Essa história de vocês tem muita paixão."
  

quinta-feira, 12 de julho de 2012


gotas líquidos recados madrugada punho fechado na madeira meio morta estava em queda tão profunda que era um corpo que não conseguia chorar.
 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

De Almodóvar, o vermelho visceral, o que move, o que é impulso, verdade, sem disfarce e não descola nunca mais. De Woody Allen, o sarcasmo leve e profundo, a desimportância de concluir e as imagens de querer viajar, indo ou não. De Neruda, o que é mar, e limpo, e música, força de onda rebentando. De Saramago, essa genialidade que arrepia por lucidez e loucura, sonho de realidade, lágrima de lembrança, pulso presente, vida pura. Atravessamento.
 

sexta-feira, 29 de junho de 2012


tão longe que aqui tão perto que dentro tão junto que urgente
tão difícil que escolha tão eu que você tão história que presente
tão saudade que vontade
tão silêncio que estrondo tão som que sussurro
tão medo que vôo tão mergulho que infinito tão profundo que amor

domingo, 24 de junho de 2012


meu amor de quilometragem infinita, morada certa no seu lugar reservado e único, sempre espalhado, vazando, fervendo, escorrendo, latejando, pulsando.
continua pelos olhos meus e teus, pelos poros que não esquecem.
este amor que é história de todos os tempos, em torno e por dentro de nós.

sexta-feira, 15 de junho de 2012


bebe um gole bebe um gole
bebe um gole bebe um beijo
bebe um beijo bebe um beijo
gole um beijo gole um beijo
engole

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Silêncio preenchido de delicadezas. É que eu explodo como taça que trinca aguda, e sinto, e cheiro, e pulso.


quarta-feira, 30 de maio de 2012

pequeno caos fragmentado

“Eu escrevi este texto inspirada no espetáculo que não consegui ir assistir. Eles foram me contando, eu fui imaginando e escrevendo.” (Mazé)

E o que é coreografia? “Arte de criar movimentos.” (Henrique)

Pequeno caos fragmentado. São retalhos do que há de ser estruturado. Ossos dos esqueletos por construir. Talvez eles tenham três braços, duas cabeças, uma costela, cinco pernas. Talvez sejam apenas um cotovelo. Quem sabe a escápula criando asas por baixo dos pés.
O percurso-cidade é um tanto familiar. Assim como o portão, as cores, escadas, imagens.  Mas o ângulo é diferente. Todo espaço se reconstrói a partir das ações. São papéis, são funções, e neste lugar, dessa forma, é a primeira vez.
Tempo de reconhecimento. Artistorientar essas vontades ainda não definidas. Em princípio, estarmos, para fazer. Corpo se re-materializando , cativar daqui pra lá e de lá pra cá.
Ronda nossos encontros a subjetividade em processo de compreensão. O que é isto, afinal?
Rondam as possibilidades do corpo. Os sentidos destas possibilidades. Os sentidos das sensações e os sentidos da racionalidade. Como se encontram? Como escapar da linguagem repetição de nós mesmos? E como não temê-la, também?
Permanecem as interrogações: técnica + criação + idades + vontades + escutar + escutar + escutar + escolher por onde ir. Divertir-se é um dos tons.
Passar do movimento para o sentido. O que me lembra? O que sinto? O que parece? Como nomeio?
Isso que nós fizemos te deixou com tontura? E se você tentasse causar essa mesma sensação em quem assiste, então?
“Eu entendo o que pode ser essa idéia, mas não sei como fazer para isso.” (Suane)
O como fazer é que é o lance. A gente experimenta. E o máximo que vai acontecer é encontrar ou não encontrar imediatamente.

Ação em equipe. Territórios para colheita de ossos misturados no tempo, no espaço, vindos de pontos diferentes dessa cidade nada desértica. Jogo de misturar todo mundo num caldeirão em movimento, recolher o que é essência, e recriar num universo sensível. E a partir daí? O que queremos em torno dos grandes encontros-ações? E como aprofundar no corpo?

Tento armar as primeiras articulações. Um tanto de poesia, fios de diversão, olhares de percepção. Disponibilidade para a troca e o encontro. Ainda é uma conquista. Ainda se delineiam as silhuetas, já visivelmente diferentes entre cada contexto. As manhãs têm a energia do riso fresco. As noites tem a sintonia quase surpreendente do tempo um pouco mais maturado.

Escrevo sobre algum vir-a-ser, ao mesmo tempo que sobre o que já construímos em outros percursos. Eles também estão impressos neste como qualquer história passada está em seu presente. O que fomos-somos-seremos. É no corpo. E tudo que o envolve, por dentro, por fora, ao redor, através. 

(1o Ensaio de Pesquisa-Ação, Vocacional Dança 2012)
  

segunda-feira, 9 de abril de 2012


Aquele era um encontro entre os olhos e a superfície do outro. Não poderia ser mais profundo do que isso, porque esse era o limite. Se os olhos pudessem ver por inteiro, se enxergassem o que existe ali de verdade, provavelmente não haveria apaixonamentos. Seria como desmontar histórias antigas, como se os Romeus e suas Julietas nunca tivessem vivido e morrido por encantamento e amor. Seria a imagem de dentro escorrendo por fora, a visão funcionando como uma escavadeira que passeasse por espaços desconhecidos e quase proibidos a nós, que não podemos ver do mesmo modo que fazem as aves de rapina. Então naquele encontro, não. Era como ver uma casca de gente, uma película orgânica, os seres vistos por trás de uma certa cegueira. O outro lado era percebido por um lugar diferente. De olhos para outros, ali sim, por dentro desse espelho transparente, úmido, circular, ali estavam escritas as imensidões de histórias, como informações sobrepostas sem ordem nem escolha. É que era tão fino. É sempre tão fino que atravessa qualquer espaço sem que se perceba, até alcançar aquele lugar invisível.

Se pudessem se ver como realmente eram, talvez não conseguissem se observar por mais do que alguns instantes.
   (para Cálamo)
  

sábado, 31 de março de 2012

    
De dentro do meu umbigo saiu mais uma eu, escorregou diante de mim e circulou como quem já sabia viver.  Olhamos para este ser espelhado que éramos, sabendo da irrealidade desse encontro. A outra eu multiplica-se sempre, ignora a minha existência e mal sabe que é construída por aparentes desimportâncias.
  

domingo, 25 de março de 2012

 
n'algum espaço
Saudade é bicho sem razão. Escapa em pontadas líquidas, fluxo sem hora marcada. Em silêncio tão profundo que grita até estourar os vidros dos quartos, dos carros, da cidade. Embaça o olhar pela força do ar que tem, e é. Paradoxo sanguíneo, essa tua (ir)real presença ausente, que chega de surpresa e engole o tempo que há.
     

quarta-feira, 14 de março de 2012


estalo
Esvazia, vaza pelos buracos, escorre pele poro pelo, pinga pelas alturas, derrete parte-matéria, parte-lembrança, pedaço-história; despenca pelo ar essa ramificação de alguéns, semente broto caule folha filha filho; gera arremate, desfaz razões, ralenta cores; cria tempo verbal inconsciente, ausente ou ?, permanente ou ?, irreversível ou ?; atravessa pela fração incalculável do instante e vai para ser adubo do tempo.
  
       
Por fazer desaguar de novo entre trêmula reação; por encher meus olhos de explosão e receio profundos. Pela urgência, pelo espaço-tempo sem espera sim desejo; no fio fino do que não sei ler, entrego-me equilibrista em primeira e segunda pessoas, por e para ser.
   

domingo, 11 de março de 2012

   
Em torno do que é difícil. Procurando encanto no movimento, e do lado de dentro, e do lado de fora; atitude e inspiração e prazer e verdade. Assim lua inteira, cheia, gritando de cima, casa dela-minha, impulso de música muda suspensa em arco luz. Sonho refletido em energia viva, muita, trocando o ar, respirando asas. Não sem receio. Não sem desvios. Não sem saber. Asas.
   

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

vôo
De onde não havia saída. De onde não há-via os vãos, as passagens. Só espaço incolor a ser preenchido num momento desconhecido - e mesmo assim, se. Era a vertigem do susto, abismo-quase-alucinação, quando o mundo silenciou em círculos esfumaçados. Alguma ânsia não reconhecida e o corpo que corria por dentro, fugitivo imóvel. Olhos vazados em compulsão; apoios falsos em torno do vento. Respirou sem ar. De onde não havia mais, escapou nunca, até dormir em pequenos tremores atônitos à espera vazia de que parasse de girar. 
    

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

 
A pele que encobre o ser, aquele que é. A pele é o ser, também. Desde a chegada. Em vias de mão dupla, transparecem dentros e foras. Toca na pele outra, aquela que continua, estende e divide. Solitária em sua intermitência. Dor e prazer. Explosão. Trilhas sobre os poros, até o fim, até ser pele-pó.
(para Cálamo, 21/02/12)
          
  

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Poesia-vida profunda viaja quilômetros pelo ar. Em instantes reverbera, por pedidos que passam pelas pontas dos pés e sapatilham marcas de histórias construídas.
   

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

   
Era aquela estrada bifurcada no fundo do mapa, invisível e múltipla. Era vela acesa, lágrima pingada, memória de tempo incerto misturado como alquimia bem feita. Palavras explodem de dentro das lâmpadas, datas desenham curvas saídas de envelopes coloridos. Cada minuto insone, lembrança mergulhada dentro e fora. Era água fácil.
     

domingo, 5 de fevereiro de 2012

De branco, para a noite de muitas cores. Eu fui com menos medo daquele escuro. Cheguei mais distante. Algo entre presente e história naquela energia me sugou de volta. Chorei tão forte quanto. Agradeci de novo, diferente e sempre. Voltei sob um céu de luz quase cheia e estrelas que só ali. As palmas ecoam ainda. Eu também.
 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012



Feliz (ahn???) aniversário para essa cidade atolada de gente e contradições. Atolada de maus cuidados, mais um braço-reflexo de um descaminho maior, mais antigo e mais largo do que ela própria. Transbordante de sons neuróticos, melódicos, disparadores de coração e de velocidades variantes e intermitentes. De onde não vou/vôo assim tão fácil. É 2012 e feliz o que, exatamente? Quem sabe a idade, um dia, traga mais cor, justiça, pele e corpo a ela. A idade e nós, parte-todo da mesma composição.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

      
Nilton Cardin
Pinheirinho é mais um. Arbitrariedade medieval, mais uma limpa, mais uma varreção. Pega essa massa humana, mais uma massa humana, e ainda aquela outra massa humana, como corpos sem gente dentro, sem rosto, sem história, pega a vida, as conquistas e as lutas diárias e de anos inteiros, essa massa desimportante, incômoda, essa sobra, esse povo excessivo, e põe todo mundo em lugar nenhum, em favor da verdadeira bandidagem suja e sanguinária. Passa a metralhadora, o trator, joga gás, espanca, vai de camburão, de helicóptero, invade, mata adulto, mata criança e esconde - ou já nem esconde mais. Vai, Sr. Alckmin e sua corja de assassinos, unam governo e polícia para expor os seus serviços criminosos gentilmente prestados à população. Angústia da gigante inversão.
      

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

   
Aquela com quem conversei no mar de água doce talvez fosse, na verdade, eu. Ou somos nós, eu e ela, dimensões da mesma idéia. Grãos e estrelas desencobertas, minhas palavras tem a forma desse sorriso; deixa ver todo dia de perto, tão mais perto que sorria eu entre ele também.
 

domingo, 8 de janeiro de 2012

 
tudo cabe, do som à estrada,
do sono ao riso,
da vontade ao tumulto,
do susto ao sim,
espelho inusitado, previsto
gosto macio de espanto encontrado
tempos verbais em torno
sinestesias esparramadas
impulso de mergulhar.
   

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Muita chuva pra lavar o tempo. Meus desejos entregues ao mar, e sobre e sob ele. A água de ir e vir levou para guardar no fundo o que não tem que estar, e prepara, naquelas ondas que bateram na pele, os nascimentos. Um agradecimento eterno, aquecido e úmido ao maior presente até então, aquele que chegou no início de um ano relâmpago e de papel cumprido e certeiro, presente/doação, e foi.
Esse que explode, tempo-agora, é meu. Um pouco de fogos mas parecem estrelas.