Um rio sobre o qual se anda por cima de pequenas pedras.
Uma margem. E a outra margem. Escolher entre uma e outra.
Porque a cada círculo do tempo, o rio fica mais fundo.
Se o pé escorregar, o corpo se afoga.
terça-feira, 22 de junho de 2010
Nessa terça, dia 22, no Profissão Repórter, será exibida a história da filha do Jonas, sequestrada pela mãe desde 2006. Assistam:
Tantas e imensas palavras. Mesmo tão distante e alheio à minha vida, parece existir tão perto de mim.
Algumas pessoas realmente deveriam ficar pra sempre por aqui. Pena.
"(...) aquele era nada mais nada menos que o meu primeiro balão em todos os seis ou sete anos que levava de vida. Íamos nós no Rossio, já de regresso a casa, eu impante como se conduzisse pelos ares, atado a um cordel, o mundo inteiro, quando, de repente, ouvi que alguém se ria nas minhas costas. Olhei e vi. O balão esvaziara-se, tinha vindo a arrastá-lo pelo chão sem me dar conta, era uma coisa suja, informe, e dois homens que vinham atrás riam-se e apontavam- me com o dedo, a mim, naquela ocasião o mais ridículo dos espécimes humanos. Nem sequer chorei. Deixei cair o cordel, agarrei-me ao braço da minha mãe como se fosse uma tábua de salvação e continuei a andar. Aquela coisa suja, enrugada e informe era realmente o mundo."
"Tu estavas, avó, sentada na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para céu que nada sabias e por onde nunca viajarias, e disseste, com a serenidade dos teus noventa anos e o fogo de uma adolescência nunca perdida: "O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer". Assim mesmo. Eu estava lá."
(José Saramago)
terça-feira, 15 de junho de 2010
Música, em sons às vezes agudos. Surgem como se viessem de lugares mais distantes e se aproximam por toques de cordas que respiram. Respiro também. Aqueles contínuos desenham imagens em mim, encontro os conhecidos por trás dos novos arranjos. Mas não é só isso. Vontade de movimento, belezas além. Mas também não é só isso.
terça-feira, 8 de junho de 2010
De noite a cidade é mais bonita. Tão mais bonita. Foi quando começou a mudar. Chegada familiar ao mesmo tempo que incógnita, ecoando estranhamentos. Depois eram rumos incertos e idiomas variados, todos?, palavras trocadas, ladeiras-muitas-ruas-estreitas de luzes coloridas e cheiros, cheiros, cheiros. Crianças. Trens de todas as pequenas moradas, correndo por uma lente de vidro transparente, minha, que buscava imagens menos reais. Boas histórias, placas, gentes, noites claras de sol e vinho. Chãos de pedra e pequenas portas baixas, de verde antigo. História concreta nas águas próximas, nas paredes, nos poemas, história nos lugares e vidas contadas. Comunicação universal em felizes tentativas inesperadas. Pretéritos mais que perfeitos imperfeitos. Olhos nos olhos, nas filas, poltronas. O sim que poderia ser amedrontava tanto quanto o não que veio real. Parte do teto desaba sem metáfora. Frases mímicas quase formuladas. Movimento na sala, nas dúvidas, em cena, da rapidez que deixa impressão de ação diluída na memória. Música na rua, dança de quem entrar, e sair, e voltar, e fechar os olhos e ver-ouvir.
A fala cantada ecoando nas minhas leituras.
Cronologia própria, o tempo diferente. O que vim/fui mesmo fazer aqui? Procurar vontades. Não sei se encontro. Ainda por vir. Não sei se me encontro.